Como existe limite de caracteres e como querem que uma pessoa siga o enredo tal como apresentado decidi não participar, mas o conto que contaria seria este (até dava mote para algo maior e melhor…):
O CAFÉ
Honra, orgulho, força, intensidade. São estes os pressupostos dos lutadores de sumo para a vitória. Eram estes os pressupostos desta aventura que transpirava no ar. Xi e Yi exibiam um olhar desafiante de conquista separados pela mesa do café com restos de um pequeno-almoço tomado à pressa. A tensão era grande para o início do titânico confronto que se antevia.
Tinham-se conhecido duas horas antes numa festa que marcava o fim do Verão. A irreverência de Xi por aparecer todo de negro onde a indumentária era o branco, atraíra o confuso coração de Yi, que fielmente usava um decotado e curvilíneo vestido branco.
Xi parecia a tempestade, Yi parecia a bonança. Cedo os olhares cruzaram-se. Cedo o álcool desinibiu-os. Cedo a noite tornou-se dia. Cedo o convite para algo mais surgiu sobre o pretexto de uma fome.
Como anunciante deste combate, chega a empregada com a conta. Nem ela mesmo prognosticava o desfecho deste confronto. Ao entregar o recibo não sabia se teria pena do vencido ou do vencedor. Se Xi parecia ser o Yokozuna dominante com mais uma conquista na noite, Yi exibia uma beleza tão ofuscante que talvez, talvez, desarmasse Xi com ternura e o fizesse exibir todas as suas fragilidades. Entregou o recibo, recebeu uma gorjeta e afastou-se para mesas mais pacíficas onde a sua simples compreensão do mundo ditava resultados mais fáceis.
O gong foi dado.
- E agora? Acompanho-te até casa, recebo um beijo e dás-me o teu número? Pergunta Xi cheio de confiança numa resposta afirmativa.
- Agora? Agora vamos para tua casa e depois acabou. Desconcertantemente responde Yi para gáudio de Xi.
Os minutos de viagem são complexos e perturbantes. Ninguém sabe o que se passa naquele espaço temporal entre o gong e o primeiro contacto. Os olhares confiantes transformam-se em acobardados olhares comprometidos. Os dois lutadores parecem perder-se na atribulada arena citadina que começa o seu ciclo de vida diário, e os dois perguntam-se constantemente se conseguem levar o impetuoso desejo até ao próximo nível e lutar na ambição de mais uma vitória gloriosa da personalidade.
Nenhum faz qualquer pergunta.
Nenhum deseja ceder à ruína que as palavras erradas trarão.
A porta é aberta. Eles entram e o combate inicia.
A paixão de cada lutador é demonstrada ferozmente com contactos intensos cheios de algo mais que paixão. Algo mais os move que o desejo de uma noite. Algo mais existe que somente um combate.
A porta fecha-se.
Lá dentro acontece o combate que iniciará uma guerra.
Dois lutadores de sumo. Treinaram para este momento a noite toda. Os rostos devastadamente destruídos. Imóveis, os dois corpos numa cama. A acção acabou.
Nenhum consegue olhar para o outro e sentir-se bem.
Nenhum venceu, ambos perderam.
Yi tinha percebido que esta noite arruinará a hipótese de ser feliz com o homem que deixara em casa para sair com as amigas. O homem que ela verdadeiramente ama. O homem para quem ela não mais conseguirá olhar. Como percebeu? Da forma mais simples. Depois do sexo, com o resfriar do momento, conforme o sono invadia o quarto, a mão que abandonava lentamente o seu corpo, não era a ternurenta mão que ela conhecia e gostava. Era uma mão estranha sem qualquer afinidade, com um único poder. O de a fazer perceber que o abraço que ela tanto amava seria para sempre perseguido por este momento de culpa com o qual ela já não mais poderia viver.
Xi tinha percebido que esta noite destruira o seu futuro como ser impávido e sereno perante sentimentos. Aquele anjo que virava-lhe as costas sempre que ele suspirava, tão frágil e belo, tinha conquistado o seu coração por capricho e nada queria com ele. Ele era um objecto mais dispensável que a cama onde ambos se arrependiam.
A guerra começava.
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