30 junho 2010

O Homo Cunilingus

Após meditar um pouco sobre este assunto, eis que chego a uma nova conclusão para o mundo da antropologia:

Existe na sociedade moderna mais um desvio do Homo Sapiens, que em nada é evolutivo, muito pelo contrário, é uma destruição de anos e anos de trabalho árduo que o subgénero másculo do Homo Sapiens - o Homem à Antiga - teve para marcar o seu território como justo peso pesado no mundo das mulheres.

O Homem à Antiga é fácil de analisar - é brusco, frontal e real no exterior e romântico e apaixonado interiormente.

O Homo Cunilingus é pateticamente fácil de analisar - é pseudo-alternativo no exterior e totalmente superficial no interior, e com um complexo de inferioridade marcante, pois o seu sonho era ser um Homem verdadeiro.

Alguns pontos:

O Homem à Antiga gosta de dizer o que bem lhe apetece, como lhe apetece e com a frontalidade que lhe apetece sobre temas tão diversos como a política imperialista da Holanda no século XVI ou a nano tecnologia aplicada pela Nike nos equipamentos da selecção, não tendo medo algum de, caso a conversa azede, passar para o diálogo do sopapo.

O Homo Cunilingus é tão patético que tenta sempre agradar às meninas, portanto as suas conversas giram à volta de temas supérfluos como a ida a uma loja de antiguidades ou o mojito delicioso de um "pub" com decoração avant guard.

O Homem à Antiga gosta da sua música, seja rock, seja punk, seja electro, seja o que for, e não a cansa de elogiar e ouvi-la em todo o lado, cagando literalmente se alguém gosta ou não.

O Homo Cunilingus gosta da música que poderá agradar às meninas. Ele verdadeiramente, só ouve música a pensar se elas gostarão, relativizando aqueles que seriam os seus próprios gostos, e o IPod com a playlist "Girl´s Taste" andará sempre consigo para partilhar um "auricular"!

O Homem à Antiga lê. Lê os jornais, desportivos maioritariamente, e o seu Expresso, Público ou JN. Lê os livros que compra às claras - com conotações políticas, históricas, etc - e os que compra às escondidas - uns romances e até poesia.

O Homo Cunilingus diz que lê. Na realidade lê "revistas". Não interessa o tema, mas as revistas têm um papel mais suave e parecem mais agradáveis. E lê aqueles livros policiais, de auto-ajuda e de viagens.

O Homem à Antiga vê de tudo. É futebol com os amigos, é séries com as namoradas, é documentários para adormecer, é filmes para relaxar, é porno para treinar.

O Homo Cunilingus só vê cagada. Vê o futebol porque parece bem a um homem, mas diz gostar mais de ver atletismo (adora os jogos olímpicos, até), as séries que gosta são todas passadas em hospitais (pelo drama humano), os filmes que vê são ora comédias românticas, ora cinema europeu de autor.

O Homem à Antiga tem um bom visual, porque descende de um tempo onde o monóculo era porreiro e o bigode aparado era fixe para tomar a sopa, não porque liga à moda, mas porque gosta de ter pinta.

O Homo Cunilingus tem um visual fashion. Anda com a roupinha que as amigas comentaram que ficava bem a um transeunte que passava na rua, não porque gosta ou é confortável, mas porque se elas gostaram noutro gajo talvez dê jeito andar assim.

Resumindo, o Homem à Antiga é um gajo que conquistará quem ele quer pela sua personalidade real. Como diriam os americanos - what you see is what you get, e isso poderá ser mais penoso, mas mil vezes mais recompensador.

O Homo Cunilingus, de tanto agradar às miúdas, nunca encontrará uma mulher. Poderá ter mais miúdas na sua vida que o à Antiga, mas mulheres... talvez. Talvez engane alguma durante um bom período, ou arranje alguma tão superficial como ele. Mas uma verdadeira relação é difícil quando todos os gostos que se possui baseiam-se em agradar alguém em vez de partilhar aquilo de que se gosta.

Sou um Homem à Antiga e orgulho-me disso. Falo do que gosto, oiço o que gosto, leio o que gosto, vejo o que gosto e visto o que gosto. Nunca vacilarei nesses pontos para agradar alguém porque isso seria o fim da minha liberdade intelectual. Afinal de contas, se tentar cativar alguém fazendo-me passar por algo que não sou, então que raio é que estou a fazer? Só se for estar a fazer-me passar por idiota.

Por isso, caros Homos Cunilingus, quando tiverem cansados desses esforços desmesurados, ou alguém que vocês até gostem não vos reconhecer conteúdo, e vocês começarem a pensar um pouco em vocês, reparem no tempo que perderam em superficialidades, quando poderiam tê-lo usado para se cultivarem intelectualmente ao vosso belo prazer.

O objectivo deverá ser sempre partilhar os nossos gostos com quem quiser e não tentar encontrar gostos para agradar aos outros.

Só escrevo isto preparando-me para um dia usar este argumento como dado e facto histórico para com muitos Homo Cunilingus - lambe conas, em bom português - que conheço. Tenho argumento! Tenho razão! Caso azede, trocarei as palavras por uns sopapos com imenso gosto! :)

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