16 outubro 2010

Ainda sobre o IVA (espero que estejam a demorar mais tempo na apresentação para apagar o erro)!

Como é que podemos analisar este aumento como uma medida positiva e que trará maior receita e equidade social? Não podemos.

 

Se olharmos para os refrigerantes, realmente não faz sentido.

A nível da saúde pública é preferível que se beba água ou sumos naturais a refrigerantes, mas como os refrigerantes são mais baratos, então em crise beba-se refrigerantes.

A nível da produção também não haverá grande impacto, pois as maiores marcas de refrigerantes são multinacionais – Coca-cola, Pepsi e Lipton. Portanto, são marcas com poder económico suficiente para verem as suas margens de lucro serem mais reduzidas por forma a manterem ou até aumentarem (em concorrência com marcas nacionais de refrigerantes e sumos naturais e de polpa) mercado, mantendo preços competitivos. No entanto, as pequenas marcas portuguesas podem acabar, transformando um mercado competitivo interno num mercado monopolizado por marcas estrangeiras.

 

Se olharmos para os sumos naturais ou de polpa, realmente não faz sentido.

A água sabe pior, faz melhor, mas os sumos são bom complemento para uma dieta saudável.

As marcas mais vendidas em Portugal são portuguesas – Compal, Fresky, Pingo Doce(branca), Continente(branca). Podemos dizer que as multinacionais nunca se interessaram por este segmento pois é mais dispendioso, os lucros são menores e são produtos onde se gosta de variar, não havendo uma fidelização como acontece com a Coca-cola e a Pepsi. Assim, sendo estas marcas nacionais e sem grande fidelização a solução parece ser óbvia – o aumento do IVA terá que ser dividido entre o consumidor e a marca, fazendo aumentar bastante o preço deste bem.

O mesmo se passa com os enlatados – Sicasal, Nobre, Primor, marcas brancas das grandes superfícies. E nestes casos, não estamos a falar de beber algo com sabor! Estamos a falar que a antiga lata de salsichas de ave que dava para 2 pessoas, será a lata de salsichas de porco de dará para 3 pessoas.

E podia continuar e continuar.

 

Solução: Pior saúde. Menos mercado com marcas portuguesas, receitas residuais e o regresso aos anos 90 onde se ia comprar gasosa e enlatados espanhóis aos 300 (actuais chineses – agora também deixa de ser espanhóis e passa a ser chineses). E estas receitas residuais serão obtidas à custa daqueles que vão ao supermercado comprar estes produtos e comparam os preços porque consideram-nos bens essenciais para o cabaz das compras.

Serão estes, a nossa saúde e as empresas nacionais a pagar a crise.

 

Caminho aberto para as marcas espanholas competirem em Portugal dentro em breve nestas áreas. Para o ano já me estou a ver a comprar enlatados da El Pozo e sumos Pascual.

 

Por um outro prisma:

 

Não será aquele que vai ao supermercado comprar uma pizza congelada e uma Coca-cola para comer porque hoje não lhe apetece ir comer com os colegas da Assembleia – quem recebe salários acima dos 3000€ certamente nunca passou na secção dos enlatados – a pagar a crise.

Mas este, que foi comprar a pizza, passa na loja de telemóveis e vai poder verificar que o preço dos Blackberrys manteve-se apesar da crise, passa na loja de relógios e repara que os preços mantiveram-se apesar da crise e passa no stand e pisca o olho ao novo modelo automóvel com 2000 c.c. e repara que também este manteve o preço.

Não será este a pagar a crise. Mas foi, é e será este a criar a “crise”.

 

Já agora gostaria de saber se existe algum estudo sobre qual será a receita prevista com esta medida (em termos brutos é claro), e qual seria a receita prevista com o aumento do IVA em bens de luxo?

 

 

Homens de Estado procuram-se.

Homens de Estado precisam-se.

2 comentários:

Anónimo disse...

Completamente de acordo, mas aproveito para corrigir um pequeno ponto: as marcas de sumos e néctares do Continente e do Pingo Doce nao são realmente marcas portuguesas já que são produzidas fora de Portugal.

Unknown disse...

Obrigado pela correcção. Tinha noção que fossem feitas, nomeadamente as Pingo Doce (por saber da parceria que possuem com a Agros) em Portugal, pelo menos as embalagens apontavam nesse sentido. Mas quem diz Continente e Pingo Doce diz Frutis, Frutol, Frisumo, etc, etc. Essa é que é a verdade. Vão todas fechar ou sair de Portugal. Poderei até questionar num futuro próximo se a entrada da "Blue" (bebida angolana) no mercado português não ajudou a esse aumento de IVA...