22 junho 2010

As Presidenciais... Parte I II e III - Manifesto a favor do Candidato Vieira!

Ao longo dos últimos dias as presidenciais começam a ocupar um papel determinante para a "espremida" análise de factos (ir)reais por parte dos mais variados actores políticos.

Com muitos dos dados lançados, as estratégias começam a ser delineadas e parece que ninguém vai ganhar.

1. Manuel Alegre:

Tinha duas opções válidas - manter-se afastado dos partidos que o apoiam e ligar-se definitivamente ao movimento que ajudou a criar, e continuar a falar abertamente do ponto de situação que o país vive actualmente, ou - receber candidamente o apoio do BE e correr o perigo de perder o apoio do movimento e dos PS de Esquerda, para depois ainda conseguir receber o apoio derrotista de um PS fragmentado.

Optou pela segunda opção. Devia chamar-se Manuel Triste – mas não é nada que me surpreenda nele.porque sempre fez a carreira de politico incontinentemente incoerente.

Certamente, parece-me que tomou a pior opção possível.

Porquê? Porque o Movimento de cidadãos era algo apartidário e mobilizador da sociedade, que possuía todos os argumentos para ajudar no choque democrático que tanto precisámos e agora irá "esfumar-se" e perderá todas as possibilidades de marcar a diferença, para além de muitos votos.

Porque o BE quer apoiar Alegre e colar-se ao PS descontente e isso é a mesma coisa que dizer que alguém do Belenenses quer assinar um protocolo de satélite do Benfica. Como é óbvio, a rivalidade ligada à visão diferente da sociedade não permite uma ligação saudável e produtiva!

Porque o PS da velha guarda quer ajudar o amigo, mas não sabe como hoje em dia se preparam eleições (tanto tempo a divagarem sem ré nem rumo por cargos dá nisso), e assim se entra rapidamente num processo de auto-destruição da réstia de socialismo que vive no maior partido centrista de Portugal.

Porque o PS de Centro Direita (PSCD) liderado por Sócrates está em fase de "reset" técnico à espera que PPCoelho faça o head-shoot final a Sócrates, para depois apoiarem cegamente mais um qualquer socialista liberal (dizem que existe este tipo de pessoas), quiçá alguém com carreira na JS tal como PPCoelho teve na JSD - quem será?! Pois, é óbvio... Assim, dá jeito a esse PSCD marcar o distanciamento em relação a esta candidatura porque pode dizer que mantém uma certa coerência de não aceitar apoiar candidatos que fundaram o partido(?!?!), por não consideram-nos verdadeiros socialistas – sim, é a lógica da batata que este PSCD usa para “minar” internamente o partido e sair vitorioso na derrota que se antevê. Digo eu, que se não aceitassem certas politicas em vez de não aceitarem homens com posições próprias prestariam um melhor serviço ao País. Mas é esse PS que funciona como uma máquina de interesses e compadrio ideal para mobilizar pessoas para o voto e é esse PS que teria que apoiar Alegre.

Finalmente temos o Pai Soares, esse grande mentor dos actuais quadros do partido. Como é fácil de observar, a sua postura é interessante de analisar a nível histórico... Lembremos 1986.

Perante a possibilidade de um Governo de Direita e um PR de Direita, a esquerda uniu-se. Melhor! O grande adversário de Soares - Cunhal - altruistamente engoliu o sapo e disse que era melhor tapar a cara ao Soares e simplesmente votar contra Freitas.

Curiosamente, hoje Soares não parece muito preocupado com a possibilidade de daqui a 6-7 meses termos um país completamente virado à direita e numa fase onde a democracia pode ter que ser suspensa uns mesitos. O tempo muda, as ideias de quem é fraco de espírito e oportunista de carteira também.



Homens de Estado procuram-se! Mas homens de Estado que assumam as suas posições e convicções pessoais à frente dos interesses profissionais e partidários. Num Estadista, ser incomodamente verdadeiro é muito mais importante do que ser irresponsavelmente consensual.






2. Fernando Nobre



Parece que estamos perante candidatos a PR com nomes totalmente dispares da realidade que eles representam, pois se o Alegre passa por triste, Nobre passa por patego.

É interessante observar Fernando Nobre a dizer constantemente que é o candidato apartidário, o candidato da maioria silenciosa que não se revê nos diferentes partidos. Ele é exactamente o representante da maioria dos militantes partidários que não se revêem nos candidatos dos seus próprios partidos.

É um facto. Ele não representa o povo descontente – representa a elite partidária descontente. E julgar-se o contrário é um acto de cobardia intelectual.

Porquê?

Porque foi lançado rapidamente como o candidato imposto por Soares para neutralizar Alegre, facto que nunca desmentiu categoricamente, mas alegando sempre que Mário Soares é um grande amigo que o apoia sempre nas decisões importantes. Já percebemos – tem amigos que o gostam de mandar para o meio da selva sem gps mas com sinais de fumo (e não fogo, lembrem-se do mediatismo que rodeou o seu anúncio… pois é). É o que acontece a um cordeiro com grande ego quando brinca com lobos de grande experiência. Mais um ponto para o estratega maquiavélico Soares, menos um para o homem Mário.

Porque a sua estratégia politica passará sempre por ser o outsider que sonhou com o apoio do PS e só receberá o apoio do PSCD (PS de Centro Direita), catalogando-se para sempre como o candidato anti-Alegre e qualquer resultado positivo nunca será por mérito próprio, mas sempre por demérito do outro… Conscientemente, para mim era lixado viver assim. Ele lá saberá viver com isso.

Porque hoje é um homem que colocou toda a reputação adquirida ao longo de uma carreira louvável por algo mais, por conselhos errados, por soberba pessoal, por querer brincar à política num país onde a política mais se aproxima de Júlio César do que de Aristóteles.



Homens de Estado procuram-se! Mas homens de Estado que assumam as suas posições e convicções pessoais à frente dos interesses profissionais e partidários. Num Estadista, ser incomodamente verdadeiro é muito mais importante do que ser irresponsavelmente consensual.





3. Cavaco Silva

O que dizer de um dos pais (a par de Mário Soares) destes políticos menores...

Uma política pouco imaginativa que limitou-se a criar auto-estradas e esquecer que o tecido empresarial português deveria ser reestruturado. O homem que mais fundos comunitários recebeu e distribuiu sem qualquer fiscalização. Aquele que ampliou drasticamente o "bicho" Administração Pública sem aplicar uma qualquer reforma estruturante. O líder dos anos 90, que limitou-se a "deixar andar". A personagem que... tanta coisa má que dava um romance!

Como Presidente da República foi mais do mesmo. Cavaco é a pessoa que mais vez disse no seu subconsciente "deixa andar que só ganho com esse jogo do silêncio - não silêncio - interpretem". É impressionante como ele se limita a ser estéril, acabando por se tornar poderoso, pois nós tentámos interpretar o que ele diz nas entrelinhas, quando ele não diz nada! Nada! É nulidade pura e dura.

Mas, o certo é que existem imensas pessoas que o adoram por essa simplicidade de pensamento, pois também não querem pensar que há maldade nessa postura. Mas há! É por essas pessoas que Cavaco irá à luta e ontem isso ficou provado.

A estratégia de desgaste constante de Sócrates é exactamente o oposto da estratégia de Cavaco, mas em Portugal ambas têm funcionado, é certo.

Porquê?

Porque Cavaco, ao promulgar o diploma que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo provocou uma ondinha de contestação à sua candidatura, que mais não foi do que medir quem estava inequivocamente com ele.

Porque Cavaco, ao não comparecer no funeral de Saramago, numa jogada de oportunismo politico inequívoco, reconquistou o seu eleitorado base e relançou definitivamente a sua campanha, pois só faltou por causa dos "netinhos". Isto, avaliando cinicamente, é brilhantíssimo - mais brilhante que o timming de Cavaco e da filha dele para venderem as acções do BPN. :).

Porque o PSD precisa de Cavaco - é o pai - para dissolver na altura certa a AR. Nem Cavaco, nem PPCoelho morrem de amores um pelo outro, mas precisam ambos um do outro em alturas pontuais e não se renegarão. Depois, desconfio que Cavaco trocará a não entrada no Governo de PPCoelho dos seus senadores, por cargos de importância estratégica económica, ou na criação do tal sonho da "câmara alta" de PPCoelho.

Porque o PP é Cavaco actualmente. Historicamente, o PP até deveria possuir um certo ressentimento para com Cavaco, pois as maiorias PSD nos dois mandatos de Cavaco transformaram o CDS no partido do táxi. Daí, não ser de estranhar que o nome lançado para roubar 5% a Cavaco na primeira volta ser Bagão Félix. Mas, isso seria suicida para o actual PP, pois depende de um eleitorado que cresceu financeiramente com os apoios comunitários sem vigilância que Cavaco deu.

Porque o actual PS também não vê com maus olhos Cavaco - crise económica, desgaste de Sócrates, frescura de PPCoelho, ódio a Alegre = a novo ciclo interno dentro do PS. Certamente muitas nomeações serão feitas proximamente para os boys encontrarem estabilidade durante a travessia no deserto.

Por isto e muito mais, que hoje não me apetece analisar, Cavaco possui todos os argumentos para conquistar a vitória à primeira volta. Caso não consiga, será interessante a esquerda do centro-direita justificar como perdeu a segunda volta, pois uma segunda volta deixa de depender dos candidatos e passa a depender dos partidos, e não acredito que o BE ou o PCP votem Cavaco ou em branco nessa segunda volta...

Para mim, Cavaco mostrou ser um não-político demasiado preocupado com o seu eleitorado político. Coisa típica de um mau-político...





Conclusão das três partes da minha prematura análise a algo que só acontece em Janeiro:

Se juntar-mos os três candidatos, nem um bom candidato temos. Por isso, vamos tentar o impossível - conseguir convencer o candidato Vieira a ir mesmo até ao fim. Ele consegue facilmente as assinaturas se quiser, e se tudo correr bem, mostrará que a política portuguesa esta putrefacta.

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