05 dezembro 2012

MESA 5 - Capitulo Cap. VI (parte)


"P - Ri-me, mas pensei logo como um homem tão diferente gosta sempre de inventar uma forma jocosa para sorrirmos com ele. É um extravagante!
Desci as escadas da ostentação... Daquela casa simples. Ainda ouvi um berro de “Volta sempre!” lá de cima. Agradeci e bati a porta.
E foi essa a informação que saquei dele.
É incrível como ele consegue ser de uma clarividência tremenda a explicar pura e simplesmente que não é uma pessoa normal e faz com que tudo tenha um significado assustador, quase mágico.
Por isso, enquanto saía pelo jardim, já a respirar ar fresco, percebia-me completamente atónito. Pensava nas suas palavras e via um gajo completamente destruído por ter perdido a pessoa que amava. E, para viver continuava a enganar a sua mente dizendo que era egocêntrico.
Tentando arranjar uma justificação lógica para tudo, sem possuir no entanto uma grandiosidade intelectual coerente que realmente justificasse tal raciocínio!
E tudo isso numa exibição tremenda. Ali não houve momentos de realidade. Ele é um grande actor. Pensou tudo ao limite. Não houve clique algum, foi tudo premeditado... Acho eu... Já não sei. Perdi-me...
Entrei para o carro e vi-o a acenar da varanda, e o raio do dia estava lindo. A casa estava fantástica!
Pareciam as suas palavras sobre o amor antes da lógica. Algo fez sentido. O quê não sei. Estava com um pressentimento esquisito, mas positivo.
Ele parecia um parvinho num cenário idílico, todo sorridente.
A rir-se, como se soubesse que me tinha deixado “k.o.”, ou certo que me tinha dado mais do que eu pedira.
Um momento para eu remoer para sempre sem nunca o saber explicar.
Quando dou à chave, oiço o barulho do motor e do arranque do carro a serem abafados pelo som do rádio e fico parvo:

“Because my inside is outside. My right side's on the left side. Cause I'm writing to reach you now but. I might never reach you. Only want to teach you. About you. But that's not you. Do you know it's true. But that won't do. And you know it's you. I'm talking to.”

Ei, isto é demais para a minha cabeça. Porquê esta música, neste momento? Olho para cima e ainda na varanda, ele faz-me sinal positivo - um é isso mesmo!
Mas tenho a janela fechada! Era impossível ele ouvir o que raio passava na rádio! Agora isto sim é assustador. A música resumiu tudo.
Ele queria amar, tentou, e trouxe consigo a justificação que precisava para seguir em frente, para ser hoje o homem que é. Sem nunca ter dito o que tencionara. Sem nunca ter escrito o que queria. Sem nunca ter alcançado quem deveria.
Teve exactamente o que precisava para viver e explicar-me que ninguém sabe absolutamente nada de nada sobre o amor e a vida." 

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