Num momento em que o país merece um período de reflexão sobre o que somos, o que queremos ser e como vamos lá chegar, decidi eu próprio abster-me de comentários que não fossem construtivos para um melhor Portugal durante os dias mediáticos que se viveram na semana passada.
O tempo já passou. Chegou a altura de apontar o dedo ao que está mal e propor um outro caminho e reinventar Portugal porque a Europa está a "abanar".
Foi acordado pelo bloco central PS/PSD - que tentam o caminho para o bipartidarismo (caso agora o PS ceda na revisão da Constituição por causa deste estender de mão, e certamente isso acontecerá, rumaremos ao do tempo voto útil) - um conjunto de medidas que não vão de encontro ao que economicamente podemos chamar de medidas reais para restabelecer uma economia.
Comecemos pelos intervenientes - os políticos:
"a redução de cinco por cento nos salários dos políticos, gestores públicos e membros das entidades reguladoras"
- Se avaliarmos que no ano passado a subida foi de 2,9%, simplesmente devido a medidas eleitoralistas, então a redução é de 2,1%. Sejamos sinceros. É uma medida idiota que em nada serve, muito menos para dar o exemplo. Todos sabemos que o grande gasto provocado pelos governantes passa pelas regalias. Seria muito mais coerente acabar primeiro com as regalias e só depois os ordenados. Mais. Acham que um trolha por ajudar a construir a Expo, os anos em que lá trabalhou contaram a dobrar para a reforma? Não. Mas participou numa obra de interesse nacional. Então porque é que um politico eleito tem esse cálculo a seu favor? Não sei, mas deveria ser igual para todos...
- Depois, a ocupação de cargos duplos ou triplos deveria acabar. Ou se recebe por ser uma coisa ou se recebe por ser outra... é uma escolha. Querem ser políticos? Sejam-no em exclusividade num sítio e ponto final - não conheço nenhum português normal, que num dia de 24 horas e numa semana de 7 dias consegue ser carpinteiro, advogado e bancário, por isso não se pode ser comentador, deputado e homem de negócios no mesmo dia.
- Acho também engraçado como é que os próprios funcionários público aceitam que as entidades reguladoras possuam níveis de remuneração diferentes das deles. Se regulam bens de interesse público, só existem porque existe um Estado Providencia, pois se fosse um Estado totalmente liberal não faria sentido a sua existência. No entanto, mesmo existindo porque existe interesse público na regulação, estas entidade possuem autonomia financeira. Todos sabemos que a ERC, a ERSE, o BdP, a CMVM, entre outras entidades, acabam o ano com lucros que são aplicados dentro das suas unidades e não redistribuídos pelo Estado. É ridículo mais uma vez. Deveriam ser equivalentes a I.P.. Não só as remunerações deveriam ser idênticas à restante função pública, como deveria ser o Parlamento a definir o orçamento e sua aplicação, após relatório de actividades e proposta de plano de acção para o ano seguinte dessas entidades, reencaminhando os excedentes para os cofres do estado.
- Eu, como pequeno investidor cauteloso, não deixo de pensar que o dia em que Teixeira dos Santos decidiu "lixar" os certificados de aforro em vez de os reforçar, deu azo para a fuga da dívida pública para o estrangeiro de uma forma muito mais rápida, e isto, porque a banca tinha que ser salva. Hoje, com as antigas séries, qual era o funcionário público que não aceitava trocar o seu subsídio de natal por dívida pública? Pois é... é a descapitalização dos elementos de regulação monetária interna que possuíamos, que depois já dentro do €, tínhamos que acarinhar... mas não.
- Depois, uma verdade. Os puristas deste Estado putrefacto, dirão que estas medidas afastarão os bons políticos. Se o que temos são bons políticos, então venham os maus. Se um politico só está lá pelas regalias, então também não faz falta. Quem está no parlamento tem que se mentalizar que foi eleito e está lá graças à democracia representativa, e deve abraçar a causa pública. E sinceramente, quem de nós daria emprego na nossa empresa, para áreas de competência técnica, à maior parte dos deputados? Eu não.
"o aumento do IVA em um ponto percentual nos três escalões, a criação de uma taxa extraordinária sobre as empresas com um lucro tributável acima de dois milhões de euros de 2,5 por cento"
- O aumento do IVA? O mesmo IVA que se baixou por medidas eleitoralistas? Neste momento, podemos dizer uma coisa: Para criar estímulo financeiro, a descida do IVA seria interessante a longo prazo. Para criar dinheiro instantâneo e provavelmente recessão, a subida de 2-3 pontos seria interessante a curto prazo. Aumentar em um ponto, a curto prazo nada faz, só assusta e ajuda no rumo à recessão.
- A minha questão é: Os bens de luxo não poderiam subir 4-5 pontos, os bens intermédios não poderiam subir 2-3 pontos, e os bens essenciais baixar 2 pontos? Afinal, grande parte da estrutura produtiva portuguesa produz bens essenciais... com mais produção talvez se tornassem em empresas com lucro e se enquadrassem no seguinte ponto.
- Aumentar em 2,5 as empresas com lucro superior a 2 milhões é o mesmo que dizer: tributar as PME´S de sucesso ao mesmo nível dos grandes grupos. E que tal, já que se estabelece níveis para tudo: 2,5 para lucros entre os 2 e os 5 milhões, 3,5 para lucros entre os 5 e os 10 milhões e 5 para lucros acima dos 10 milhões? Não dá. Deve dar... E não era nada demais. Já agora, incluir a banca nisto seria justo.
Chegámos a um ponto sem retorno. Agora tem que ser assim e vai ser assim. Não é o bom caminho, mas é o que temos.
Não foram as agências de rating que nos trouxeram para o deserto. Não foram as agências de rating que se esqueceram de levar a água. Elas são apenas abutres a fazer o seu trabalho.
E porquê? Por muitos motivos. Políticos quase todos eles. Mas eu não esqueço quem nos trouxe até aqui e não vai ser "o sentido de responsabilidade nacional", nem o "Eu peço desculpa aos portugueses".
Friso e voltarei a frisar, o governo grego mentiu a toda a Europa com valores falsos. O Estado Português, não só enganou como continua a enganar com os zigzags constantes. Quem é mais culpado? O que mente ou o que omite e engana? Somos o país "campeão do crescimento"? Como será no 2º trimestre? Vamos ser realistas por favor. O sentido de Estado de Passos Coelho era assumir a ruptura e provocar eleições antecipadas. Mas primeiro há que lhe lembrar que o país não lhe conferiu qualquer poder de delegação para que ele nos dê a mão. Deram 60% dos votantes do PSD e já foi muito bom. O patriotismo de Sócrates era abandonar o poder e fazer a sua "mea culpa".
Vou deixar as reformas na sua especialidade e os investimentos públicos para uma altura própria, mas não deixo de frisar que Sines e o Aeroporto (sem a nacionalização da ANA) são mil vezes mais importantes que o TGV. Metaforizo até.
- A Deco recebe mil e um pedidos de ajuda de pessoas sem dinheiro para pagar as suas dívidas, cheias de créditos mal parados. Uma boa parte destas pessoas partilha a mesma história. Gosto de os chamar os idiotas sem necessidade.
São aquelas pessoas que, sem estabilidade laboral, com filhos, com casa e contas para pagar recebem uma chamada de um amigo:
- Já pagaste o teu carro a diesel com 6 anos?
- Já. Dá os seus problemas mas anda...
- Humm... anda aqui ter comigo que tenho um negócio muito em conta - um BMW porreiro.
- Oh. Não tenho dinheiro para isso.
- Não te preocupes. Dás o teu à troca e depois fazemos aqui um crédito Credifin.
- É assim tão fácil?
- É acredita.
A moral da história é chorarem na Deco com o crédito mal parado, passados uns tempos. Aí a assistente terá que ser dura e perguntar:
- O seu antigo carro não andava? Não era mais económico?
- Era. Mas o BMW é mais bonito. E era um negócio de ocasião.
- Ocasião. Sim. Para o seu amigo vendedor.
O TGV é um BMW que só faz falta para quem tem dinheiro para ele. Quem não tem vive bem com uns Alfas (pendulares). É bom não esquecer.
Concluo, dizendo que temos de nivelar o país. Se somos o país mais desigual da Europa não é por causa de quem recebe o ordenado mínimo. É por causa de quem recebe 5, 10, 15, 20 vezes o ordenado mínimo. Infelizmente, os esforços são pedidos de forma quase igualitária, mas nas Lições Teixeira Ribeiro aprendi que pedir um esforço de 50€ no fim do mês a quem recebe 500€ tem muito mais impacto na vida dessa pessoa do que pedir um esforço de 500€ a quem recebe 5000€. Acabemos com a proporcionalidade, instauremos a ponderabilidade. Para acabar com os pobres e com os ricos, temos que nivelar por baixo porque já falhamos o nivelamento por cima. É tempo, é hora... de uma revolução de mentalidades.
O que vale é que está a chegar o Mundial e só vamos saber o que se passou com a nossa carteira lá para fins de Agosto!
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