24 janeiro 2005

Aqui, um desejo de liberdade

Concentro as minhas forças!
Renego tudo que concebi.
Deixo o vento, fluir em mim
E voo a lutar por ti.

Perco a minha fé,
Dou o meu coração,
Vendo a minha alma,
E mergulho na imaginação.

Transformo-me no tempo,
Mudo todo o meu medo,
Grito pela planície terrena,
O divino segredo.

Ofereço-te a minha vida,
Ofereço-te o meu mundo,
Por esta liberdade pura,
Esta eternidade de um segundo.

Uma voz, um papel.
Um pensamento, um traço.
Um sonho, um pincel.
Uma viagem, um esboço.
Uma miragem, esta beleza.

Que escapa, da chama eterna,
Intensa, sem forma idealizada,
Só com uns olhos que ardem na alma,
Do fogo, da liberdade anunciada...
Há alturas para colocar a máscara,
Para viver na imaginação,
Para comprar sentimentos
Povoados de entulho
E perceber a ilusão.

Há alturas para fumar um cigarro,
Para perder a virtude,
Para disparar uma frase
Sem sentido oculto
E nada que perdure.

Há alturas para ler um livro,
Para saber esquecer,
Para conhecer alguém,
Fixar o olhar
E deixar-se perder.

Há alturas para mergulhar no mar,
Para tentar respirar,
Para cantar um sonho
Ao colo do vento
E tentar voar.

Há alturas para ver o mundo a passar,
Para sentir a solidão,
Para dialogar no escuro,
Ouvir um suspiro
E acordar uma multidão.

Ela passa abraçada a um relâmpago
Ela traz o melhor e o pior
Ela faz-se desejar
Ela atinge o auge,
Na altura em que se faz perder.

Raiva amorosa pela semântica

Que desejo de escrever
Tentar naufragar no infinito
Rodear-me de paisagens bíblicas
Decidir o rumo de um rio
Pranto de uma lágrima que minto

Vontade de mudar o mundo
Com gritos de ardina
Destreza de pensamentos irracionais
Envoltos numa neblina primitiva
Resto de uma mentalidade perdida

Que pesadelo, esta conversão!
Procurar o harém no deserto
Vendo só miragens reais
Da corrupção mental
Porque é que tento?

Porque talvez me realize,
Me transforme em maioral
Dance entre véus de beleza
Acorrentados à religião,
Pela vida de um errante impontual

Como as frases que escrevo,
Palpitando a raiva estúpida
Da não concretização humana
Da prosa tão idealizada.
……….

Sentido opaco, de destreza na preguiça!
Revolta ilustre, do cansaço sobre o trabalho!
Isto, sem dúvida, é a bela arte de estudar!

Medo do romantismo

Houve algum tempo,
Em que larguei o preconceito,
Que despi-me de vaidades,
E tirei algum proveito?!

Houve alguma altura,
Em que me virei para a tempestade,
Abri os braços,
Abraçando o medo da verdade?!

Houve algum sentimento,
Dentro de mim,
Para tentar lutar por ti,
E não haver este fim?!

Ser primitivo (resumo)

No alto da gaiola… toda a cidade!
Formigas conduzem poluição rumo ao céu
Olho para cima e vejo, o mundo, o meu!
O ser civilizado lembra o primitivo, com saudade.

Surgem memorias e lágrimas que a inteligência,
Não consegue controlar, e não paro de olhar!
Penso no passado, quem fui! Senão um pedaço de carne
A divagar, no fundo do ser, até descobrir a inteligência,

Que me transformou nisto! Um ser que mente
Que usa os outros um pássaro sem asas
Um quadro inacabado, alguém também usado!
Alguém que já sonhou, e agora nem sequer sente!

Mas afinal de contas o que é que vi?
Eu!? Eu apenas vi um relâmpago…

Rotina

Papel e luxúrias já não me seduzem,
Não lutei o suficiente para os ter.
Deixei-me levar pelo sonho,
Ideias que se transformaram em pó,
Loucuras que foram investimentos perdidos.

Esquecido na cidade, errante no monte
Foragido dos inimigos, vencido pelos amigos
Perdi a confiança para lutar por mim.

Caminhei sozinho até ao cemitério.
Cavei o buraco onde iria meditar.
Cortei a madeira à minha medida.
Deitei o corpo a olhar para a lua.

Fechei os olhos…
Amanhã, será um novo dia.

Já não seremos…

Vamos, talvez ver televisão!
Bem, ou quem sabe, não ler um livro.
Exacto! Exilar todo o perigo,
Sugerido pela imaginação.

Confisquemos o ar do perfume,
E o som puro da chuva,
E o sabor do néctar de uva,
E o simples toque do ciúme,

O navio pode assim ancorar,
Adormecer no porto,
Parar a viagem com um ponto.

Fomos, talvez, um alguém
Ou, ate um cidadão
Duma sociedade sem imaginação.
Lembrados como um ninguém.

As lembranças estarão presentes.
O dia, claro que acordará,
A noite, sempre chegará,
Apenas mais sonolentos.

Navio Rebelde



Escondido no escuro, em busca do brilho,
Segue o navio solitário o seu trilho.
Igual aos demais, também se perde no nevoeiro.
Aos poucos torna-se incapaz de ser verdadeiro.

Deixa-se levar pelas ondas, rumo ao mesmo círculo.
Vê a terra a afastar-se, e lentamente repete o ciclo.
Fica à espera do vento, da rajada final,
Para acabar como os outros! Sem saber quem é afinal…

De repente muda a trajectória! Foge do porto de abrigo!
Rejeita a segurança do mundo e enfrenta o perigo!
Polémico! Afasta-se dos outros e ruma sozinho!
Sereias, em vão, tentem bloquear-lhe o caminho!
A vontade de descobrir outro mundo é maior!

Ele já nada teme,
Não é a aventura que é pior!
É saber que a rotina o impede de dar o seu melhor!

Se vencerá o Adamastor… Só o tempo dirá. 

Falso Alarme

Escolho momentos concretos para interagir,
Uma altura certa para apregoar,
Qual leão, ruçando pela savana.
Sentidos despertos, pronto a atacar.

Infelizmente as palavras iram-me fugir.
O ataque mortal, não se vai realizar.
O banho de sangue, não se vai concretizar
O predador cheio de fome, vai dormir,
E esquecer as palavras a imortalizar.