22 abril 2010

Criticar depois do exercício de funções é soundbite democrático para os esquecidos.

"Não estou nada satisfeito com a qualidade da democracia, temos que a requalificar, revitalizar. A começar pela renovação das dinâmicas e das estruturas partidárias. E há uma remobilização dos cidadãos que é necessária" disse Jorge Sampaio à Antena 1.

Nesse quadro, Sampaio defende a "diminuição" do segredo de justiça e aponta o dedo à comunicação social, "que arruína a reputação de uma pessoa". "Apregoamos o princípio, violando-o todos os dias e isso parece-me muito grave para a coesão social"diz o ex-Presidente da República.

Que directo e corajoso é Sampaio!

Algumas notas sobre estas palavras que já denotam o peso dos anos na cabeça de uma pessoa pouco adepta de olhar para o passado antes de falar:

Para quem não se lembra, aquando da sua primeira candidatura, ele criticou Cavaco por ter entregue o cartão de militante do PPD/PSD e ter dito que a sua candidatura era apartidária apesar de aceitar o apoio dos partidos que assim entendessem. Enquanto que Sampaio assumiu que era um candidato Socialista com (o que iria acontecer pouco tempo depois) ou sem o apoio do PS.

Viria a ser Presidente da República Socialista, e não Presidente da República Portuguesa, para depois praticar um conjunto de actos em conformidade com a sua candidatura. E foi aí que a democracia portuguesa começou a ser lentamente mas altamente prejudicada.

A qualidade da democracia foi prejudicada quando Jorge Sampaio, como Presidente da República “directo e corajoso” viu o seu “camarada” Ferro Rodrigues ser vitima de uma campanha negra à volta do escândalo Casa Pia e, nada disse sobre a comunicação social  na altura, pois os resultados eleitorais e a comunicação social apontavam para outro caminho.

Assim, chegou Durão Barroso ao poder. Assim, Durão Barroso apoiou a guerra no Iraque e recebeu a prenda de ir para a Europa fazer carreira. Assim, Santana Lopes chegou ao poder. A qualidade da democracia continuou a ser prejudicada. Sampaio nada disse de especial.

Com mais uma campanha negra (apesar de Santana e Portas juntos serem um mimo para a comunicação social, admito), o jovem Sócrates criou um élan para a sua maioria absoluta, e quando as sondagens confirmaram isso, Jorge Sampaio “directo e corajoso” apoiou-se nas notas dadas pela comunicação social sobre alguns pequenos escândalos ( ainda distantes da gravidade do FreePort, do Tagus Park, do Face Oculta, etc.) para dissolver a AR e promover novas eleições à medida da maioria absoluta de Sócrates. A qualidade da democracia continuou a ser prejudicada.

Agora, muitos anos depois, Sampaio mostra-se insatisfeito pela qualidade que ajudou a criar em vez de assumir as suas responsabilidades.

Resta saber, se entrelinhas mostra-se insatisfeito por Cavaco não ter feito a Sócrates o que ele, Sampaio fez a Santana, ou se acha que hoje a comunicação está diferente do que era na sua altura como governante.