Como já é apanágio meu, gosto de escrever e analisar o estado
do Sporting em momentos precisos. Daí, escrever somente no fim da primeira
volta, no fim do campeonato e no início de época, pois considero que para
avaliar um trabalho é preciso dar tempo para que este mostre os seus
verdadeiros frutos. Uma análise com 15 jogos já disputados no campeonato, mais
os das restantes competições permite isso.
Assim sendo, a minha análise passará pelos jogadores,
treinadores, direcção e situações avulsas como por exemplo as nossas contas.
Peço um pouco de paciência da vossa parte, principalmente a
quem já lê as minhas análises desde que o site as publica, pois não vou
inventar a pólvora visto que muitas das situações que vou expor são meras
repetições do que já havia escrito, porque para mim só não viu que “isto” ia
acontecer quem é incapaz de converter a força que tem na paixão pelo clube numa
avaliação séria e honesta. E sabem uma coisa: Amor, paixão, ódio, raiva são
sentimentos que vivem altos e baixos numa relação, mas para a relação subsistir
no tempo, nos bons e maus momentos, são precisas duas coisas que nunca se podem
questionar… Confiança e honestidade, pois são estas a pedras basilares que
permitem o brilho das positivas e o repúdio das negativas. Porque quando
abraçamos um amor nunca podemos questionar quem por lá passa nos
"entretantos", pois essa imagem na cabeça será tatuagem destrutiva
nos silêncios do afastamento.
1.
Os Jogadores
O que podemos dizer?
Contratações: Que fizemos contratações más? Não. As
contratações foram até bastante convincentes. Jogadores de renome. Com créditos
firmados. A custo zero (sim, nunca é a custo zero mas é menos do que
transferências). Internacionais pelos seus países. O que faltou. O do costume. Carlos
Freitas é bom a encontrar jogadores em conta e de créditos firmados, mas todos eles
com um problema em comum: São jogadores que estão em fases completamente
indefinidas das suas carreiras. Ora, isso leva a que cheguem ao Sporting sem
confiança total nas suas capacidades. Basta o “barco” ou o seu timoneiro não
transmitirem força, motivação, confiança e estes banalizam-se. Daí, muitos dos
jogadores contratados ficarem atónitos e sem reacção perante um mau início de
época e rebuliço interno que logo surgiu com os “notáveis” da brigada do
croquete a falarem sem sequer saberem os nomes correctos desses jogadores. Por
isso, o grande problema foi o do costume: Não se contrataram jogadores segundo
uma avaliação psicológica cuidada. Suspeito que esse nem sequer foi um
critério.
Plantel no global: Nesse seguimento, criou-se um grupo de
jogadores interessante, mas desde logo privados de liderança. O caso
sintomático das constantes mudanças de capitão foi a marca mais profunda desta
navegação sem rota definida. Nunca um jogador como o Elias poderia ser capitão
do Sporting, mesmo que fosse para o motivar, pois ao motivar-se um jogador
corremos o risco de desmotivar uma equipa. Foi o que aconteceu. No passado
falei que o Daniel (que já saiu), o Rui e o Fito deveriam ter a missão de
liderar o balneário. O Rui por ser o activo mais importante do Sporting destes
últimos anos. O Daniel pela forma como sempre defendeu as cores do clube, e o
Fito pela personalidade forte e raçuda, para além de ser dos sul-americanos
mais experientes no plantel, o que o ajudaria a ser um bom elo de ligação entre
grupos. O Onyewu (que nunca deveria ter sido preterido pelo Boulahrouz) também
deveria estar nesse lote, ou não tivesse uma personalidade tão forte que chegou
mesmo a trocar “mimos” com o Ibra nos tempos do Milan. Por isso, quando os
resultados começaram a correr mal, vimos jogadores jovens completamente
perdidos. O Cedric como pode jogar bem se (e aqui, culpa do Fito que defendi à
pouco) levou um raspanete enorme a meio de um jogo por uma falta que todos os
companheiros já fizeram esta época? Assim, joga sobre brasas. O Jeffrén como
pode jogar bem se ninguém ainda não o avisou que jogar e twittar não se ajustam
bem? O Carrillo como pode jogar bem se o deixam andar nos copos e continuam a
pagar o ordenado? É preciso ter uma hierarquia coesa de capitães que saibam
falar e articular as competências entre si no balneário. Se é o treinador a
fazer este papel, então o discurso fica obsoleto e cria anti-corpos rapidamente
com o plantel. Por isso, digo e direi sempre: antes vale comprar jogadores
caros, mas verdadeiros campeões do que apostar no escuro só por terem
competências técnicas e tácticas interessantes. Porque a juventude que temos é
de qualidade e precisa de líderes para os ajudarem a fazer a transição de
promessa para certeza.
Um aparte para esta reestruturação do plantel no mercado de
Inverno: Não merece reparo. Era esta a aposta correcta desde o início da época.
2.
Treinadores
Sá Pinto: Disse e está para aqui perdido que ele apenas
aproveitou o trabalho táctico e físico do Domingos e incutiu-lhe pragmatismo e
motivação inicial. O Ricardo é grande Sportinguista, mas não chega. As equipas
que apresentou sempre foram defensivas e a jogar pelo seguro (para mim, foi
esse o erro inicial do Domingos – não ter sido pragmático e cauteloso desde o
início, querendo logo que a equipa brilhasse desde a primeiro jornada), e nunca
me convenceram verdadeiramente, pois vi lá níveis muito elevados de motivação
com o discurso dele, só que esse discurso fica gasto rapidamente (então com
fases negativas) e o treinador fica sem discurso. E, se não tem jogadores
capazes de motivarem os colegas, todo o trabalho é destruído. Foi o que
aconteceu ao Ricardo. E todos sabemos que o ponto de viragem no discurso foi a
final da Taça. Depois, com o começo de época, não havia discurso definido, não
havia liderança e o modelo de jogo cauteloso teve que ser logo substituído por
modelos de jogo totalmente atacantes, porque no intervalo estávamos sempre a
perder. Agora também se percebe que faltou a componente física na pré-época…
Mas eu já estava à espera disto.
Oceano: Foi tentada a mesma solução tipo Domingos/Sá, ou foi
só para ganhar tempo? Não sei. Sei que foi tempo demais. Contudo, o mais grave
é Oceano ter continuado na equipa técnica seguinte. Fragilizou logo qualquer
discurso do Franky.
Franky: O homem veio para aqui passear. Até ele já sabia o desfecho
disto. O Oceano foi o elo de ligação com o passado. Treinadores adjuntos da sua
confiança, nem vê-los. Um discurso de apoio num dia no outro ambiguidades por
parte da Direcção. Contudo, uma coisa: ele parece mesmo fraco. Porque até nas
substituições e esquemas de jogo vimos más ideias. Muitas más ideias…
Jesualdo: Teve logo um discurso coerente. Não prometeu uma
equipa a jogar bom futebol em 2 meses. Prometeu que todas as situações iriam
ser analisadas e resolvidas a seu tempo. Prometeu evoluções jogo a jogo. É o
discurso óbvio. Só o que foram precisos três treinadores anteriores para isso
acontecer… Foi também o homem que definiu quem eram os capitães e colocou-lhes essa
responsabilidade numa conferência de imprensa bem conseguida. E fala sobre a
situação do clube com verdadeira sinceridade. Gosto do que estou a ver. Mas,
verdade seja dita, foi um golo aos 89 minutos no primeiro jogo, um bom jogo
depois e um grande Rui Patrício no terceiro. Se os resultados fossem ao
contrário… Espero que o mantenham mesmo que haja período eleitoral.
3.
Dirigentes
Carlos Freitas: Já está identificado como o homem incapaz de
contratar jogadores com perfil de campeão. Ainda bem que saiu porque a nível de
vendas também é muito mau.
Luís Duque: Suspeito que foi para o Sporting com a cabeça
nos processos que tem em tribunal. Não mostrou o homem do Sporting campeão, mas
verdade seja dita, é preciso não esquecer que o futebol mudou muito desde a sua
última passagem.
Jesualdo: Se como treinador está bem. Como dirigente foi um
alcoviteiro. É a realidade.
Eduardo Barroso: Coloco-o aqui com Presidente da Mesa da AG,
mas falarei dele como comentador mais à frente. Considero que está a fazer um
trabalho horrível. Tem sido uma verdadeira oposição interna do clube. Vejo nele
a personificação do que disse no início: É daquelas pessoas que não consegue
criar confiança e honestidade por força da paixão que sente pelo clube e
dinamita muito o clube. Contudo, excelente ideia de a AG ser em Fevereiro. Se
forem provocadas eleições que sejam depois do mercado estar fechado. Assim,
muito dificilmente se vão prometer jogadores “a torto e a direito” e vamos
analisar projectos (espero eu). Para além disso, permite uma outra coisa: a possível
estabilidade na equipa técnica, pelo menos, até ao fim do ano.
Godinho: É o grande responsável de eu não ter quase nada de
positivo a dizer sobre esta primeira volta. Não é líder. Rodeou-se das pessoas
erradas para conseguir votos fáceis. Não percebe de futebol (isso então,
imaginem o que é o Bill Gates não perceber de Windows? Porque o “core” do
negócio é o futebol. Tem que perceber minimamente). O seu discurso é quase
idêntico ao ministro da propaganda do Saddam. E, colocou-se a jeito. Mas fez
isso desde o início. Por isso, não seria de esperar outro resultado que não
este. Chego a sentir pena dele. Foi visto pelos seus parceiros da altura como
um meio para um fim (o Barbosa e Cristovão olharam para ele com o ex-presidente
mandatário das suas próprias candidaturas no futuro), mas quando as coisas
começaram a correr mal, cada um por motivos díspares, abandonaram o barco – mas
ambos são muito piores que o Godinho (que isto fique registado para o futuro) –
pois, confiar o clube a eles? Não, obrigado. Podia continuar a cascar no
Godinho durante mais cem páginas, mas ele é o produto de todo um grupo interno
do Sporting que mais não é do que a “brigada do c(roquete)”. Pessoas que se
servem do clube e incapazes de o servirem, mas com conhecimentos suficientes
para passarem entre os pingos da chuva como autênticas cobras cuspideiras.
4.
Avulsos
Situação Financeira: Alguém sabe a verdadeira situação
financeira? Eu não. Nem aquela famosa auditoria que iria identificar os
culpados por ela foi transparente, pois foram os culpados a auditar. Não quero
pronunciar-me desta nova ideia que apareceu no “Expresso”, pois parece mostrar
só pontos positivos e eu não acredito que a banca seja perdularia. Espero que
esta direcção não hipoteque o futuro do Sporting com mais um acordo ruinoso
para o clube, mas não para, novamente, a “brigada do c(roquete)”.
A Política de Comunicação: Talvez a área que mais
reestruturação precisa a par do futebol. É cada um por si. Não existe uma linha
coerente. Os dirigentes dizem o que querem. Os treinadores também. Os jogadores
nem se fala. Uma verdadeira bandalhada que só provoca uma coisa: problemas
desnecessários. Se não existem directivas sobre este ou aquele tema… Então
silêncio. É tão fácil fazer isso. Mas como não existe liderança, o fogo-de-artifício
é fácil de produzir. Um exemplo do nosso maior rival (temos que ser sérios
nisto): O Jesus criticou os empresários de forma contundente. Deixou avisos.
Não vi o Rui Costa ou o LFVieira falarem sobre isso. As competências estavam
definidas e em caso de más expressões, certamente que tudo foi resolvido
internamente.
E, mais duas coisas sobre este tema: Que comentadores são
este que temos na televisão? O Eduardo Barroso não pode “estar dentro e fora”
ao mesmo tempo. Se espicaçado, ele abre o livro todo de uma forma que ainda
consegue criar mais confusão. O Rui Oliveira, tenho para mim que não consegue
ver 90 minutos de um jogo, pois deve passar mais tempo a petiscar na tribuna,
pois consegue ser uma perfeita nulidade. Então a nível técnico-táctico,
suspeito que um miúdo de 12 anos a jogar FM lhe ensine imenso. É quase
humilhante ter um representante assim. Por isso, por incrível que pareça, até é
o Dias Ferreira o melhor dos três. E para eu dizer isso é porque os critérios
estão baixíssimos.
Sugestão: Comunicado a anunciar que o Sporting não se revê
neles. É fácil. Retirando isso as televisões vão repensar a estratégia. Vão ter
com o Sporting e vão perguntar nomes a título de sugestão. E, aí, basta indicar
pessoas que percebam de futebol, mas que possuam um bom olhar crítico (o
problema é que esta direcção não pode sugerir ninguém assim, porque não conhece
J ).
Outra coisa é a política de comunicação nas camadas jovens.
Recentemente vi no jornal local da minha cidade a entrevista de um miúdo de 12
anos que entrou para a Academia e o título era que sonhava ser como o Messi e
jogar no Barcelona. Com 12 anos e já diz isso? Mas o Sporting não tem ninguém
que consiga formatar a cabeça dos miúdos desde essa idade para apreciarem o
clube, ou pelo menos não dizerem essas coisas? É que a este ritmo vamos acabar
por perder muitos jovens antes do tempo – antes de uma boa venda, pelo menos.
Eu digo isto porque como o futebol tem evoluído, um bom jogador aos 17 anos já
pode fazer parte do plantel principal, pelo menos a part-time, assim estou a
falar de um miúdo que daqui a 5 anos pode estar na equipa principal. Convém
incutir nesses talentos uma política de comunicação que engrandeça o Sporting,
no mínimo. Assim, no futuro, os talentos que ficarem cá, podem ser os tais
líderes que guiam o balneário. Não é preciso meter ex-jogadores nas equipas
técnicas, é preciso meter bons comunicadores, bons professores, que criem elos
de ligação entre o clube e os jovens, para estes últimos verem o clube como um
fim em si mesmo e não um meio para um fim. Chamem-me maquiavélico, mas azar. Se
os treinamos, também os temos que meter a gostar do clube no futuro.
E, pronto. Este é o testamento que vos quero impingir. Falta-me
falar de um ou outro tema. Mas as palavras começam a escassear perante a
tristeza que me dá em falar de coisas tão óbvias, mas que tanta gente teima em
não querer ver.
Sinceramente, nem eu sei qual é a melhor solução para o
clube. Se ficar como está, se mudar com eleições. Acho só que tem que mudar
algo. Mas para isso é preciso parar e pensar. E só vejo precipitações de todos
os lados… Sei que o clube não pode parar, mas uma pausa de uns 2 meses faziam
tão bem para todos metermos o dedo nas nossas consciências e tentar construir
uma relação com base na confiança e honestidade ao redor deste nosso grande
amor…
Saudações Leoninas,
Magno Alexandre Neiva