08 março 2013

Paraíso (no Cap. IV de MESA 5)


Paraíso


Meu paraíso, procuro-te desesperado!
Encostas íngremes, caminhos traiçoeiros, falésias
mortíferas,
A um tropeção de distância.

Não te alcançar, deixa-me prosaicamente desolado.

Sem descanso, olho, tento, sigo.

Beijo nuvens, trovões e estrelas no sopé de cada
montanha ultrapassada.
Mas resgato-me no horizonte e caminho.

Deixo, à deriva, o vento comandar.
Sinto o seu empurrão em cada passada a ajudar-me a
alastrar este fogo interno,
Pelas planícies desérticas que refletem o luar.
Ao andar pela caminhada sagrada, também observo
a beleza desta natureza primitiva.
Flores exóticas, animais puros, rostos de uma terra
imaculada.

Tudo me parece novidade!
Olho-os com olhar de criança!
No entanto, mantenho-me objetivo!
Sigo em frente cheio de certezas!

Mas depois, paro para descansar, percebo...
Analiso velozmente e descubro...
Que a verdadeira razão da busca... É descobrir o que
quero.

Concluo portanto, que o paraíso perdido,
Não será somente um local sagrado,
Mas um rosto familiar que me atormenta.
Chamando-me no fim das forças ao seu encontro.

Já rendido à evidência da paixão,
Radicalizo o meu projeto, transformo-o,
Incuto-lhe a componente amorosa,
Vejo o meio-termo, no meu coração.

Acordo, então suado, perdido.
Olho para o lado e vejo-te.
Bela essência adormecida.
Protetora da minha lucidez louca.
Compreendo que me dás equilíbrio.
Para viver entre o sonho e o pesadelo.
Entre o sonho e a realidade.
Entre o sonho e o projeto.

Que projeto? Talvez de viver,
Pensando que te posso perder.
Rendido por não te querer perder.
Numa passagem tão simples, tão pura,
Como a noite passa para o amanhecer.

Tu abres os olhos, sorris.
Perguntas se estou bem.
Agarras-te a mim e esqueço,
Todas as questões criadas.
Das que surgem num pesadelo,
Sabendo que com o amanhã, tudo passou.

E... Aconchegas-me o dormir, num beijo.

Durmo nos teus braços.
A agradecer-te por seres minha casa.
Mostrar-me que o pesadelo passou.
Mostrar-me que o sonho chegou.
Perceber que pertenço aqui, ao paraíso!
Aqui adormecido, agarrado ao teu corpo.
Juntando as nossas almas, sossegado.

O meu paraíso não é o absoluto.
O meu paraíso é o teu amor.