17 abril 2012

Globalização Social e o seu Impacto em Portugal - Conclusões

A propósito da acção corajosa do Estado Argentino, deixo aqui uma espécie de manifesto de interesses:

“Com o decorrer deste trabalho certas premissas foram apresentadas e tenuemente foi apresentada a própria visão do discente quanto às temáticas abordadas. Agora como conclusão, tentar-se-à fazer uma avaliação crítica apoiada nas conclusões visíveis de cada um dos pontos.

Assim, primeiramente, e observando os pontos em comum que ligam as várias definições de Globalização, no contexto deste trabalho, sugere-se como definição alargada de Globalização: a utilização dos mais variados mecanismos de intervenção transnacional, nomeadamente tecnológicos, para que um conjunto reduzido de intervenientes possa influenciar sob uma ótica de mercado capitalista/mercantilista, as relações económicas, sociais, jurídicas, políticas e culturais num espaço geográfico tão abrangente quanto necessário para os objetivos desses mesmos intervenientes, acabando por direta ou indiretamente influenciar os mais ínfimos detalhes do dia-a-dia de toda uma população mundial, de forma quase que imperialista.

Relativamente à componente histórica, parafraseando a frase comum bastante querida por filósofos como Heinrich Heine e Friedrich Nietzsche de “a história repete-se”, numa componente de recorrência histórica, será interessante analisar todas as bases criadoras dos grandes impérios da antiguidade e observar se este movimento de Globalização ou Mundialização não será exatamente uma espécie de Imperialização à escala do atual mundo conhecido, ou seja, todas as nações do mundo.

Vários pontos históricos apontam para tal, e a divisão cada vez mais marcada entre países do centro (onde até o próprio norte, normalmente considerado forte, mais concretamente a Europa, vê uma hegemonia ser ameaçada, e vê a criação de grandes potências fora da Europa, podendo-se dizer que, hoje o Norte é o G20, ou mais restritamente o G7) e da periferia (onde o novo Sul são todos os países considerados periféricos ou semiperiféricos), faz como que lembrar uma escala da antiguidade romana, onde existiam os patrícios, os clientes, os plebeus e os escravos, mas, desta feita, a nível global não só na população mas também nos países.

No ponto das Globalizações foram analisadas a Globalização Económica, a Globalização Política e a Globalização Cultural.

Desde logo, não se analisou a geopolítica que potencia a não existência de uma Globalização Militar, pois será a nível militar, onde apesar de existirem mais avanços tecnológicos, que os grandes Estados preferem optar por resoluções políticas que lhes possibilite manter o seu poder militar e a criação de pactos de não-agressão, fazendo da força inativa um enorme poder de persuasão. Contudo, a nível mundial, observa-se que a NATO, anualmente passa da sua área de ação primária – o Norte Atlântico – para uma área de ação cada vez mais próxima de criar barreiras ao desenvolvimento militar protocolar das potências a leste e oriente. De resto, e aproveitando o analisado anteriormente, se considerarmos o ocidente como um Império, torna-se óbvio que o Atlântico é hoje analogicamente muito próximo do Mediterrâneo Romano ou Mare Nostrum.

Abordando a Globalização Económica, e para chegarmos ao momento atual, verificámos que a sua substanciação académica foi dada por autores e obras temporalmente anteriores a quatro momentos completamente desestabilizadores da economia mundial. Os autores, contudo, mesmo sem esses fatores apresentaram uma visão bastante avançada do tema, prevendo mesmo em alguns pontos esses fatores desestabilizadores.

O primeiro foi a “Bolha da Internet”, que entre 1995 e 2000, criou uma especulação impar no índice bolsista Nasdaq. Um conjunto de empresas de tecnologias da informação, nesse período viram as suas ações tornarem-se altamente rentáveis até 2000, momento esse em que o mercado reavaliou o potencial das mesmas, levando a um crash bolsista e consequente processo de venda, fusão, redução e extinção de muitas. Dessas fusões, gigantes das tecnologias foram criados e muitas multinacionais que outrora não investiam nesse ramo conglomeraram muitas dessas empresas nas suas fileiras, o que alterou bastante a dinâmica económica do início do século, pois a união de certas multinacionais com empresas de tecnologia criou uma elite empresarial que hoje verificámos no topo da Forbes para os homens mais ricos do mundo.

Paralelamente, um segundo ponto nesse período temporal. Talvez num cenário especulativo, como forma de recuperar as perdas em bolsa, verificou-se a primeira grande onda especulativa das dívidas soberanas, sendo a América Latina e nomeadamente a Argentina, as primeiras incubadoras deste novo processo dos mercados, onde se poderia apostar em fundos contra o pagamento das dívidas soberanas pela parte dos países. A desastrosa intervenção do FMI e do Banco Mundial na Argentina, sendo este um país que outrora não era considerado periférico, mas sim a segunda maior economia Sul-americana, provocou o exílio de um presidente que defendia exatamente o Neoliberalismo – Carlos Menem - e, levou à presidência da Argentina em 2003 de Néstor Carlos Kirchner, que juntamente com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, num plano mais conservador; e Hugo Chavez, presidente da Venezuela, Evo Morales, presidente da Bolívia e Rafael Correa, presidente do Equador, num plano mais revolucionário; redefiniram o Mercosul e criaram uma forma destes países, otimizando as suas relações e os seus recursos naturais, renunciarem às fórmulas Neoliberais para problemas de dívidas externas do FMI e Banco Mundial e optarem por políticas económicas menos prejudiciais para estes países.

Esta componente será interessante de analisar, pois poderá ser considerada como um processo de Globalização (neste caso, e até ao momento da América Latina) dispare da Globalização Económica Neoliberal, sendo até interessante verificar como se reagiu a um crash bolsista no Norte e a uma crise transnacional no Sul do continente Americano no mesmo período.

Outro ponto interessante para contextualizar a atualidade da Globalização Económica, será a “Bolha Imobiliária” verificada no Ocidente, particularmente nos EUA e Europa, que conduziu à crise sistêmica definida como Crise do Subprime, que apesar de bastante prevista por vários analistas, aconteceu a partir de 2007, com principais incidentes em 2008. Essa crise veio alterar as posições de força dos principais países, transformando a China na segunda maior economia mundial, afirmando-a como principal credora dos EUA, e possibilitando a afirmação de países como o Brasil e a Índia como potências mundiais. Este enfraquecimento temporário dos EUA, demonstrou que a Globalização Económica não será uma Globalização dos Estados mas das multinacionais, pois não só o Estado Americano teve que apoiar financeiramente muitas destas, como várias multinacionais transferiram muitos dos seus investimentos para fora do país nesse período, obrigando os EUA a tudo fazer para trazê-las de volta ao território inicial, inclusive injetando dinheiro na economia e uma baixa sem precedentes nas taxas de juro pela parte da Reserva Federal.

O último e mais atual ponto, curiosamente será o fato de após esta nova “Bolha”, a imobiliária, tal como em 2000, surgiu uma crise da dívida externa, desta feita nos países periféricos europeus logo a seguir. Ou seja, após perdas enormes com o Subprime, após um difícil e ainda não concluído reajustamento dos mercados, os mesmos decidem criar instabilidade económica nos países periféricos da Europa, sendo desta feita a Grécia, Irlanda e Portugal os principais visados. Contudo, por pertencerem à União Europeia, estes Estados ficaram vinculados a aplicar um conjunto de medidas promovidas pelo FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu que até ao momento demonstram uma forte componente Neoliberal, e mais importante, não se mostram (ou não pretendem) capazes de restabelecer uma economia de crescimento e desenvolvimento destes países.

O apresentado anteriormente sustenta que a atual Globalização Política serve de motor para a Globalização Económica, mais concretamente com a extinção da autonomia económica dos países através da criação de instituições transnacionais que gerem os assuntos económicos.

Seguindo esta escada de pensamento, a Globalização Social num contexto Neoliberal tenta com as crises e a postura do mercado perante estas, manter a nova burguesia de mercados na sua posição de classe social dominante seja como grandes gestores de multinacionais, seja como atores políticos nas variadas instituições transnacionais.

Como será também visível, o desencadear de uma Globalização Cultural, poderá muito bem resultar apenas no crescimento do consumismo nos países pertencentes ao G20 baseado em premissas ocidentais, mas também num conjunto de metas inatingíveis para os países periféricos.

Numa perspetiva global, podemos dizer, à luz dos acontecimentos relatados, que a Globalização e as crises desta exponenciam um maior fosso entre ricos e pobres, sejam países, sejam pessoas.

A nível local, em Portugal, começamos a verificar em todas as ações promovidas para a resolução da crise da dívida externa, uma constante opção por políticas que intentam tornar Portugal num país cada vez mais periférico e dependente.

Se analisarmos os números apresentados no ponto sobre Portugal, verificámos que certamente estes números estarão em crescimento a nível das desigualdades sociais e do desemprego nos próximos anos (talvez sejam disfarçados tenuemente pela emigração).

Portanto, não resta a Portugal grande espaço de manobra pois obedece a todos os pressupostos desenvolvidos ao longo de décadas pelos mercados para criar países periféricos numa dinâmica de Globalização, que neste particular caso podemos afirmar como Mundialização do Neoliberalismo.

Contudo, não será de descurar o fato de a Islândia demonstrar que existe outro caminho passível de percorrer, apesar do seu pequeno tamanho; o fato de a América Latina ter redescoberto novos caminhos após o ataque desmedido a um país central como a Argentina (situação que ainda não aconteceu na Europa, pois até ao momento só os países pequenos estão sob o radar); o fato de possuirmos relações privilegiadas com países que outrora subjugamos e que hoje podem ser motores da nossa economia; e o fato de que a Globalização também trouxe acesso à informação, e que essa informação poderá potenciar uma emancipação dos povos em relação aos mercados, apesar de neste trabalho não se abordar (devido às restrições naturais para trabalhos desta natureza) os processos de Anti-Globalização.

Para finalizar, umas questões que poupariam muitos caracteres relativamente à validade de a Globalização ser Neoliberal: Não é verdade que um dos pressupostos do Liberalismo Clássico e da sua reformulação Neoliberal é o mercado livre, onde um Estado Mínimo apenas serve como regulador e prestador dos serviços básicos à sociedade? Então porque é que se instrumentaliza este Estado para tornar aquele que deveria ser um mercado livre num mercado tendencialmente restrito a um grupo particular da sociedade? Será que as dinâmicas da Globalização Económica, Política, Social e Cultural bases do Neoliberalismo atual, não destroem o conceito de Neoliberalismo, tornando-o apenas numa justificação académica hipócrita para a manutenção de um status quo que nada tem a ver com os pressupostos do Liberalismo Clássico, ou, como diria mais resumidamente José Saramago, "Se a ética não governar a razão, a razão desprezará a ética"?.”

(Conclusões retiradas por Magno Neiva em “Globalização Social e o seu Impacto em Portugal”, Abril 2012).

Sugestão para visionamento:

http://youtu.be/qoRjmYm6ry4

Sugestões para Leitura:

SANTOS, Boaventura de Sousa (2001) (Org.) Globalização: fatalidade ou utopia? Porto: Edições Afrontamento.

CONVERSI, Daniele (2004). Americanization and the planetary spread of ethnic conflict: The globalization trap, EUA: Planet Agora

STIGLITZ, Joseph E. (1998). More Instruments and Broader Goals: Moving Toward the Post-Washington Consensus. Helsinki: The 1998 WIDER Annual Lecture.