30 março 2011

Pensamento global futurológico!

"A Autoeuropa recebeu novas encomendas que lhe permitem atingir este ano uma produção de 130 mil viaturas e vai fazer contratos de seis meses a 300 trabalhadores temporários, disse fonte da empresa.

Parte das encomendas recebidas terão de ser entregues no mês de Agosto, o que levou a empresa a negociar algumas contrapartidas com os trabalhadores. Umas dessas contrapartidas são os contratos de trabalho para 300 trabalhadores temporários, que serão assinados, progressivamente, a partir do mês de Abril. O necessário aumento de produção obrigou também a empresa a chegar a acordo com os trabalhadores em relação ao tradicional período de férias colectivas de Agosto, que este ano será de 19 dias úteis distribuídos por três períodos distintos. Fonte da empresa garantiu também à Lusa que a empresa se comprometeu a pagar, em Dezembro, um prémio anual de 250 euros a todos os funcionários com um mínimo de oito meses de trabalho efectivo. A Autoeuropa produziu um total de 101.284 veículos em 2010 e já previa um aumento da produção em 2011 com a entrada do modelo Volkswagen Sharan no mercado chinês. O director geral da empresa, António Melo Pires, no passado mês de Janeiro, admitiu que, apesar da crise económica mundial, esperava uma melhoria em 2011 devido ao mercado alemão, principal destino das exportações da Autoeuropa, e à entrada em força do grupo alemão no mercado chinês."

Parece óptimo não parece? Mas não é.

As economias chinesa e indiana cada vez mais produzem bens de exportação via marcas nacionais. Continua a existir um sem-número de direitos não-adquiridos por lá, mas é mais difícil e caro usar esses países para obter produtos de mão-de-obra barata, ora porque o investimento depende do aval dos Estados, ora porque as regras de trademark não se aplicam, podendo tornar uma boa ideia num bom roubo de negócio. No entanto, as multinacionais por lá instaladas preferem permanecer e redireccionar os seus produtos anteriormente usados para exportação mundial em produtos de consumo interno nesses mercados, ou ainda simples exportação asiática (a queda do Japão ajuda e de que maneira a esses intentos - não estou a falar exclusivamente dos efeitos tsunami mas do envelhecimento ímpar da população nipónica e reajustamento demográfico que acontece nesse país). Assim sendo, futuramente, será um mercado de produção a evitar pelas multinacionais, podendo-se optar antes por parcerias - coisas que já muitas multinacionais estão a fazer numa vertente - venda de know how especializado limitado vs. compra de componentes específicos.

A economia Sul-Americana cresce também numa vertente socialista de entreajuda bolivariana. Ou seja, os países com grandes fontes de energias não-renováveis começam a investir e apoiar os países vizinhos com uma política de emancipação ao neo-colonialismo Norte-Americano, tornando o ambiente hostil para muitas multinacionais. A mão-de-obra passa de barata para socialmente cara. Não só é difícil manter relações de poder nesses países, como pode-se fomentar o processo de validação do movimento anti-capitalista nesses países - pagando o exigido pela mão-de-obra, sendo esta redireccionada para o povo desses países, poder-se-á incrementar o nível de vida desse povo fazendo-o apoiar ainda mais estes governo bolivarianos. Veja-se o progresso comparativo na última década dos países pró-americanos e dos países pró-bolivarianos.

A economia Africana é um desastre. Existe uma constante instabilidade em África, agora até os países do Magrebe - se a Tunísia e o Egipto gritavam emancipação, a Líbia cheira por todo o lado a movimento de estancamento dos danos permitidos com a democratização dos países acima. Por outro lado, a curto prazo a África para ter uma revolução industrial precisa de tempo - faltam infra-estruturas e mão-de-obra minimamente qualificada - e é incapaz de assegurar a curto-prazo o fornecimento dos produtos necessários para o capitalismo (para além desse facto, convém manter a população na ignorância de vender as suas matérias-primas por trocos que são redireccionados para as oligarquias que dominam os principais países africanos).

O que sobra aos artífices do neo-liberalismo então?

Fácil. Aproveitando a criação de um "pseudo" mercado-único e uma crise mundial (tendo o conhecimento de uma experiência falhada na América do Sul apoiada na crise da "bolha da internet"), começa a procurar países com infra-estruturas, mão-de-obra qualificada e dependência económico-político-legislativa dos mercados. Encontra esses países nos extremos da Europa. Que mais pode e deve fazer? Validar a (em parte) falácia de que as exportações devem ser o motor da economia desses países, apoiando governos neo-liberais, cobardes e anti-patrióticos  a mudarem a legislação laboral, a investirem em infra-estruturas que não se adequam às necessidades internas desses países, à completa destruição da produção nacional de bens essenciais (falo aqui da agricultura e pescas) e à qualificação de uma geração que permita, até África estar à mercê de uma investida, mão-de-obra-qualificada por preços de saldo.

Este movimento da AutoEuropa mais não é do que um teste. O Governo vai congratular-se pelo investimento estrangeiro. A oposição de direita vai dar como exemplo esta empresa para que as leis laborais sejam redefinidas. A esquerda não vai saber abordar correctamente o assunto. Resultado - o avanço vai ser positivo.

Agora eu pergunto: O que compensa actualmente à Alemanha para vender um carro na Europa ou até em mercados emergentes? Fazer um carro na África Magrebe sem certezas do que acontecerá por lá? Fazer um carro na outro ponta do mundo com Governos, ora interessados em absorver o Know-how para venderem eles próprios as conquistas alemãs como suas, ora usarem estes produtos como propaganda para um novo paradigma social? Fazer um carro a uns km do comprador ou longe mas com condições boas para o transbordo, com a certeza que o Know-how não será desviado, pois as leis aplicadas são impostas pela própria Alemanha, com uma mão-de-obra qualificada e barata?

Mas isto não é um pensamento único de crítica. Não. Actualmente Portugal tem que se sujeitar ao facto de que não passa de um país que vai fazer bens especializados para consumo externo. No entanto, é essencial que essa prenda envenenada seja totalmente redireccionada para a fomentação de uma reestruturação do tecido empresarial português, investindo-se na criação de empresas de marca própria e auto-suficientes, com um bom "mix" de consumo interno/exportações, sempre com prevalência para o consumo interno e para o investimento massivo na agricultura e nas pescas para a tentativa da auto-suficiência alimentar.

- E ó Magno isso é possível?

Com este Governo e com o Governo que virá? Não! É preciso um Governo com visão ampla e com economistas completamente vacinados contra a neo-liberalice aguda, coisa que a escola académica portuguesa de estudos em Economia, Gestão e Administração não possuí.

Homens de Estado procuram-se. Homens de Estado precisam-se.