19 setembro 2013

Bem... Domingo já cá não estou em Portugal... Aconteceu o que previ. Até breve!

Quando me pediram para escrever um texto sobre o meu percurso profissional e como este percurso se enquadrava na actual conjuntura do país, a resposta foi logo “Sim. Sem problema”.
Contudo, depois pensei o que é que poderia escrever que não fosse uma infeliz mas completa banalidade, perante os dias em que vivemos.
Dizer que sou da geração mais qualificada que este país teve a capacidade (intelectual e financeira) de formar? Dizer que sou da geração cujos sonhos e expectativas foram colocados nos píncaros (não só devido ao constante crescimento do país como das suas oportunidades)? Dizer que sou da geração onde os instrumentos de comunicação são tão abrangentes e universais que o mundo é a minha nova casa?
Isso já todos nós sabemos. Como sabemos que tais constatações, pouco ou nada, tiveram de impacto na forma mais tradicional de se obter emprego em Portugal.
Infelizmente o que não sabemos é que existe algo em muitos de nós, da nossa geração, que é muito mais forte do que o dinheiro, a ambição profissional ou os títulos académicos honoríficos.
Existe uma extrema convicção de agradecimento. Um enorme sentido de pertença. Um especial sentimento de ser português.
Portugal deu-me família e amigos. Deu-me ruas e locais. Deu-me memórias tristes e alegres. Deu-me a oportunidade de estudar. E deu-me a capacidade para trabalhar.   
Sim. Não sendo dado a religiosíssimos ou espiritualismos, devo confessar que sou dado a uma verdade universal – quem me fez bem, merece o meu respeito e, pelo menos, a tentativa de retribuir.
E é por isso que, mesmo estudando com atenção a evolução da crise financeira de 2008 para a actual crise económica…
Mesmo sabendo que um novo paradigma de ordem mundial estava para surgir…
Mesmo sabendo que a competência de todos os políticos juntos para compreender e antecipar concertadamente planos de contenção para os males que surgiriam a curto-prazo era zero e teriam consequências nefastas a médio e longo prazo (pois em 38 anos de democracia, ainda não encontrámos uma geração de políticos capazes - e como as juventudes partidárias estão formatadas segundo a geração que as antecede, não podemos esperar uma boa geração nos próximos tempos) …
Optei por deixar enganar-me pelo coração (quando a minha cabeça já alertava para estas dificuldades há muito tempo) e acreditar que era possível prosperar em Portugal apenas com as minhas capacidades.
Daí, este texto nada mais é de que uma enorme “mea culpa” por ser ingénuo e honesto num país onde só prospera verdadeiramente quem tem a fantástica capacidade de passar entre as pingas da chuva devido à acefalia do seu carácter.
Não me entendam mal. Se um dia estiver extremamente necessitado, também eu terei que moldar o meu pensamento e sentido de honra, adaptando-me aos actuais meios de obter remunerações condignas.
Mas também não me entendam muito mal. Nesse dia, parte de mim morrerá. Será a parte em que estou agradecido a Portugal por me ter dado ferramentas e não igualdade de oportunidades.
Mas também não me entendam extremamente mal. Em vez de vender a minha alma, comprarei uma passagem de avião.
Daí (num aparte), olhando para o fluxo migratório dos nossos jovens, vejo que emigram, e apesar de abandonarem o país, são os melhores portugueses, porque aguentaram até ao momento em que o futuro era hoje e os sonhos não se realizariam no país que amavam. Pois, para muitos deles, tal como eu, os estudos também criaram a ideia de liberdade, igualdade, fraternidade.
A estes só umas palavras simples: mesmo que a vontade de voltar aperte muito no vosso coração, não se esqueçam que se for para voltarem para um trabalho cujo principal perfil seja subserviência, então não voltem, pois só mais destruído e infeliz ficará o país e a vossa alma. Se for para voltar porque acreditam e sabem que vão ser respeitados como profissionais íntegros e capazes, então voltem e redescubram a alma, a raça e a vontade de vingar como portugueses.
Falando de mim, pois era esse o objectivo e o devaneio já passou...
Como sugeri nas linhas acima, acredito nas minhas capacidades.
Sei que sou um excelente profissional na minha área, ou todos os empregos por onde passei não tivessem sido executados com a maior da qualidade e profissionalismo (muitas vezes executados de forma muito melhor do as que pessoas com imensos anos de casa e proporcional ordenado – talvez daí não ter ficado mais do que o contrato previa, porque deve ser mais incómodo trabalhar com alguém capaz ao lado, do que um coitadinho que espirra graxa de sapato por cada acção que faz, mandatado pelo partido A ou B).
Sei que tenho espírito, ética e integridade fortes (ou não estaria aqui a escrever isto com perfeita consciência e medindo as palavras a utilizar).
Sei que preparei-me financeiramente, enquanto trabalhei, para uma travessia no deserto durante algum tempo, neste país que amo.
Sei que se tiver de começar do zero no mundo laboral, desde que tal não afecte a minha integridade, não me importo de começar como estagiário, recibos verdes, ordenado mínimo, como trolha, cortador de relvas, técnico ou sei lá o quê.
Mas sei… Sei muito bem… Sei também como ninguém que… Se a humildade da minha parte em refazer-me como profissional para adaptar-me à competitividade do mercado laboral actual (coisa que dava pano para mangas como tópico de discussão, visto que considero não ser uma boa solução a médio-prazo a contínua desvalorização das remunerações do trabalho e os vínculos precários) não for proporcional à mudança que este país precisa a curto-prazo, e voltar a ver os mesmos casos, de pessoas incapazes e moralmente abomináveis a dividirem entre os seus contactos, os empregos destinados aos mais capazes da minha geração…
Sei que tenho guardado para o fim, uns euros para viajar numa low-cost e oferecer tudo que tenho por quem aposte em mim (e, sem ser futurologista, tenho quase a certeza que o meu “saco vai encher” e esse dinheiro será utilizado, visto Portugal ser um país de brandos costumes) …
E, quando esse dia chegar… Quem ficar por cá a destruir o capital humano fantástico que a democracia trouxe… que arranje outro cortador de “relvas”, outro tocador de “cavaqu”inho, outro caçador de “coelho”s, outro agente de “seguro”s…

Barcelos, 2012-10-30
Magno Alexandre Neiva

P.S.: Mas se é para a sociedade civil acordar, também convém reavaliar se será pertinente manter o “Secret Story” como líder de audiências e não programas de informação. E, já agora, se esses programas de dita informação, também não possuem agendas escondidas…
Talvez o melhor seja mesmo as pessoas começarem a refugiarem-se de volta aos grandes livros de pensamento económico, social, político e filosófico. Afinal de contas, se somos a geração mais instruída, temos a obrigação de aprender com os clássicos do passado, em vez de acreditar no que um comentador comenta e no que um político diz… pois são pagos para isso.

Enquanto pensar livremente… Ainda não é alvo de lápis azul.