30 novembro 2010

Medina e eu…

Ontem, em mais uns Prós e Contras, o costume. Medina Carreira, o nosso Dr. Doom (por momentos vimo-lo a falar sozinho e a fazer rabiscos, caso de foro psicológico preocupante) voltava a apontar, e bem, que qualquer tipo de reforma é impossível com os atuais partidos à frente do Governo e é preciso alguém que não necessite de votos/empregos para fazer notar a sua força, alguém do FMI, talvez. No entanto, desenganem-se. Apesar de concordar com a premissa de que este sistema político está podre e cheio de homens patéticos, cuja única ideologia é a da remuneração, não posso concordar que o FMI seja a solução, pois os grandes interesses estão salvaguardados. Os grandes Institutos, as grandes E.M. estão a salvo, pois são controlados pelos homens que negoceiam diretamente com o FMI os cortes a fazer e, irremediavelmente, será sempre mais fácil cortar a quem não tem voz do que a quem tem voz e poder obscuro (cortando sempre num IP menos forte politicamente para dar a sensação que a crise é para todos). Talvez, quanto muito, seja tempo de o FMI entrar em Portugal para que a população se aperceba de que as medidas impostas servem só um pequeno leque de interesses e que a situação de estarmos onde estamos pertence à escola centrista-liberal, a antiga burguesia média-alta, que sempre comandou os desígnios do país desde a 1ª República. Sim, eu concordo com a entrada do FMI. Mas concordo para que toda a população perceba que aquilo que nos querem retirar – o Estado Social – vai totalmente de encontro aos objectivos do PS, PSD e PP. Somente, estes últimos sabem que nunca obterão legitimamente e sem prejuízo eleitoral essa vitória.

Não se esqueçam dos tempos em que a nobreza reinava o burgo. Depois de espoliarem tudo nos tempos de más colheitas, deixavam a população acalmar, retomar a vida normal, lentamente imponham impostos mais elevados, e consequentemente levavam a que estes deixassem de conseguir produzir, para depois… nova espoliação mas com menos retornos.        

O paralelismo é notório. Esta burguesia, que aspira a ser nobreza, primeiro dá um Estado Social, depois como consequência direta aumenta os impostos para colocar a população em cheque, depois retira alguns pontos do Estado Social, depois gera uma crise e retira o Estado Social, depois começa a devolver o Estado Social aos poucos, antes de ciclicamente repetir o processo.

É para isso que caminhámos. Se o FMI assumir as despesas e a “culpa” de retirar alguns direitos constitucionais a Portugal, certamente PS, PSD e PP demarcar-se-ão dessas medidas, pois mal o FMI saia haverá um conjunto enorme de direitos/promessas que poderão voltar à agenda política para a reconquista do eleitorado e manutenção do status quo.

Era isto que eu queria ouvir. Alguém terá que dizer ao povo que o FMI vai entrar, os culpados terão que ser julgados, pelo menos em praça pública (quando falo de culpados, não falo somente desta equipa governamental, mas arrisco-me a ir até aos tempos de Soares, passando por Cavaco) e os erros não podem ser repetidos. Quem nos prometer daqui a uns tempos novos abonos de família, serão exatamente aqueles que nos tiraram no passado esses abonos e tirarão no futuro. Isto sim é que será preciso lembrar ao povo constantemente. O PS-Esquerda (se ainda tiver algum resistente) PCP e BE têm a obrigação de apontar isso hoje, quanto antes, sob pena de nada ficar registado do que previsivelmente vai acontecer nesta “estrada”, para daqui a alguns anos o confronto ser baseado em factos e não em promessas.

Portanto, eu concordo com Paulo Portas no fim do dia. Eu quero o FMI aqui com uma “Junta de homicídio nacional PS-PSD-PP” a dar a cara e as boas vindas, pois essa fotografia será necessária para o futuro. Quem quiser adiar essa solução só permite que ganhe a corrente que transforma essa Junta numa “Junta de salvação nacional ps-psd-pp/CAVACO” (reparem no manifesto de Cavaco Silva – será que ele vai conseguir que uma grande maioria dos portugueses se esqueça que ele foi 1º Ministro e cometeu os erros enormes que cometeu. Tudo aponta nesse sentido. Pois, Soares é avô, Cavaco pai, Guterres mãe e Sócrates e Durão/Santana filhos orgulhosos do MONSTRO) e isso é a maior mentira que o povo português pode vir a ter que engolir – um esquecimento seletivo geral. Façam um gráfico igual ao que a Marca fez para Ronaldo e Messi e coloquem os valores económicos, sociais e políticos. De certeza, que as estatísticas não ilibarão nenhum governante.

Portanto, no fundo, no fundo, eu concordo com Medina Carreira, só que eu quero o homicídio da Junta e ele a salvação da Junta. É só esse ponto que nos separa. E é enorme. É o ponto em que um gráfico mede se o povo esquece ou não, e em Portugal o queijo é bom.

Portanto, no fundo, no fundo, no fundo até não sei se o FMI vai entrar ou não. O que sei é mesmo que entre a balança do “deve e do haver” nunca será equilibrada rapidamente e a crise económica hoje também é política e amanhã talvez seja democrática (também concordo com Medina nesse ponto).

P.S.: Só um pequeno aparte para os restantes economistas e jornalista (opinion maker desde o celeuma entre a amamentação/chupeta ao celeuma Big-Bang/CERS). Falaram tanto da Alemanha e ninguém disse que era óptimo para a mesma que os países periféricos (consumidores/mão de obra de produtos alemães) ficassem tão enfraquecidos dentro da zona Euro que não lhes restasse solução senão transformarem-se nos países de outsourcing barato para a indústria alemã. É disso que se trata na política alemã. Transformar os PIG´S, dentro ou fora do Euro no receptáculo de tudo que seja indústria de bens de consumo que não produza lucros necessários para se manter na Alemanha, mas que possa gerar lucros dentro de economias cujas leis de mercado dependam diretamente da Alemanha (coisa que esta não pode garantir nos países emergentes).

08 novembro 2010

Coerência?

Dois momentos marcaram este fim-de-semana. Os dois com um ponto em comum: Falta de coerência (ou coragem, como queiram).

  1. A vinda do alto representante da China a Portugal, juntou à mesma mesa todos os partidos de direita (e centro-direita – PS) e o PCP, para além do PR. Todos receberam Jintao com a maior das cordialidades e puxaram a conversa sempre para a ajuda da China a Portugal. O PCP (bem ou mal, para mim mal) sempre reconheceu a China como um país em expansão e com o qual Portugal poderia manter relações, mas os outros sempre que o PCP proferia tais palavras na AR acusavam-no sempre de defender uma ditadura. Como ficámos? Eles vêem em visita e os valores defendidos na AR são esquecidos para se deitarem com eles durante um faustoso jantar, ou mantêm-se o que se disse (só para atacar qualquer medida apresentada pelo PCP) e recusam-se a sentar à mesma mesa com os chineses (ao menos o BE teve essa coerência)? Era bom que isso fosse recordado pelo PCP em pleno jantar e espero que o tenha feito.
  2. A ida ao Estádio do Dragão deu como prenda uma goleada ao Benfica. Durante dias a fio LFV disse que se houvessem “bolas de golfe” a equipa não iria jogar. Levaram com uma bola no vidro, o Roberto levou com uma bola nas costas e uma galinha na baliza (desta vez real) e o Benfica continuou a jogar. Se não comparecessem o resultado seria 3-0 e depois as sanções a aplicar teriam que se basear em todos os factos que levaram à não comparência (incluindo a segurança). Como ficámos? Era só para aparecer na TV e vender jornais, ou faltou verdadeiramente coragem?

É preciso líderes inteligentes, de coragem, que mantenham as palavras de ontem hoje e que tenham os seus valores, ideias e ideais no “sítio” ou este país manter-se-á um país sem credibilidade, pois o capital humano que o lidera é esperto, interesseiro, cobarde, hipócrita.

Homens de Estado procuram-se. Homens de Estado precisam-se.

06 novembro 2010

Redenção

Velhos costumes perduram na minha vida,

Erros constantes perseguem as minhas decisões.

Mas mudar parece-me ténue correção,

das minhas próprias e corretas assunções.

 

Tenho que preencher aquele espaço.

Aquele que me distingue dos outros.

Terei que me sentar e profetizar insignificâncias?

Não bastará-vos olhar para o que faço…

 

Não. Tenho que me auto-medicar.

Preencher este espaço com recordações.

Momentos de alegria que esqueci na vivência,

De uma vida cheia de incorreções.

 

Por entre o sonho de sobreviver…

Quero é lutar por viver.

Podes tirar-me o poder do vivido.

Ou até o esquecido, amor sofrido.

Não me tires a lembrança de te perder

 

Porque quero perdurar.

Porque quero amar.

Porque quero me exilar.

Porque quero sonhar.

Porque quero esquecer.

Porque quero sobreviver,

À palavra amar…