Eu gosto muito de ler - o complexo livro de minhentas
páginas, ou a simples notícia de futebol. Adoro ouvir - o som articuladíssimo de
uma música intemporal, ou a simpática voz de uma pessoa desconhecida na rua. Amo
ver – o filme em que o mais desalmado olhar lacrimeja, ou as sonoras cores que o
céu produz num dia de primavera. Vivo para acreditar – naquilo que a imaginação
consegue conjugar entre a ficção e o real, ou a semântica que as palavras do
dia-a-dia podem ter em nós.
Não me é nada estranho ler, ouvir, ver, viver histórias
de desapego pela sociedade em que vivemos – crise e desemprego, sonhos
desfeitos, solidão social, emigração forçada, amizades interrompidas, amores
distanciados, vidas indefinidas…
É fácil perceber que o cinzento está a transformar-se
num negro vincadamente árido, desnudado e frio.
Mas não o temo. Começa a nascer em mim um novo
acreditar.
Se li, se ouvi, se vi, se vivi… Então criei ideias,
pensamentos, opiniões, decisões, atitudes, valores, realidades. Quero
aplica-las. Não me conformo mais com o menos, o razoável, o mediano, o consenso
do intermédio.
Quero mais! Quero o sonho! Quero aquilo que
desejo!
E cada vez mais me surpreendo! Pois não acredito nem
quero a felicidade do dinheiro, carros, casas, carreiras… Sei que são mecanismos
artificiais para sobreviver, até um acordar para realmente viver, que se fará
num piscar de olhos, que pode ser amanhã, ou no último dia da nossa existência…
Mas far-se-á. Porque um dia teremos que realmente viver!
E cada vez acredito mais que nós, crianças
irresponsáveis que atrevemo-nos a sonhar para lá da idade dos sonhos, que temos
20 ou 88 anos, e que todo um conjunto de factores decidiu nos colocar neste
país, neste momento, nesta decisão, não queremos que nenhuma outra geração
alguma vez venha a questionar se querer mais, querer o sonho, querer aquilo que
se deseja, é verdadeiramente possível aqui, em casa!
E esse acreditar cresce! E cresce em mim! E cresce em
ti! E cresce na sociedade!
Nós estamos a travar a nossa própria guerra civil. E é a
guerra da cor.
Se nos deixamos derrotar, o cinzento será mesmo negro, e
os sorrisos nunca mais se vislumbrarão.
Se lutarmos, cada um da maneira mais pura que sabe, ora
com um grito de protesto, um slogan de indignação, um “não” audível, uma
desconstrução de uma ideia pré-concebida na sua moral, uma simples aceitação
da diferença por respeito, uma crença na esperança em não baixar os braços, uma
sugestão criativa e inovadora… Uma simples palavra de alento dita apenas como
desabafo… Talvez o cinzento se misture. E venha o verde, o vermelho, o azul, o
amarelo…
E as cores retornem para nunca mais nos abandonar!
E a pintura criada seja a perpetuação de um sentimento
de união!
E a ficção consiga conjugar-se com a realidade!
E as palavras se transformem em acções das quais nos
iremos orgulhar!
Pelo passado, pelo presente e pelo futuro de quem ainda
ousa sonhar!
E ele, Madiba, que um dia disse "Às vezes cabe a uma
geração a obrigatoriedade de ser genial... Vocês podem ser essa geração!” se
orgulhe de nós!
Então. E quê? Sejamo-la! Por ele! Por nós! Pela cor que
queremos dar aos nossos sonhos!