22 outubro 2013

Onde a campainha não tocou

Uma viagem que afinal nunca sucedeu.
Promessa redentora esquecida da memória.
O tempo passou sem gerir a história.

Ele não se comparava com ninguém conhecido.
Uma mistura de personalidades num fato clássico.
Preto como o escuro do quarto antes da campainha.

Som mágico e trágico.

Ela abriu a porta de olhar sonolento.
Ela não esperava sentir o momento.
E o medo venceu todo o resto.
Manchou o olhar esverdeado com distância.
Marcou o rosto suave com arrogância.
Mascarou o significado das palavras com displicência.

Aconteceu uma vitória do desapego.
Ela sabia que o afecto também ia viajar.
Ele perdeu-se em desculpas sem se explicar.
E a oportunidade passou a silêncio de um segredo.

E assim ficou, oculto sem recordação.
Mas algo continua à procura de explicação. 
O relógio continua a contar.
O tempo hiperboliza os quadros. 
O desarrufo anuncia um arrebatamento.

Ela reabriu a porta de olhar enternecido.
Ela ansiava pelo instante perdido.
E a redenção era momento sentido.
Manchou o olhar esverdeado com lembrança.
Marcou o rosto suave com esperança.
Mascarou o significado das palavras com cobrança.

E a decisão que nunca aconteceu, acontece por acontecer.

Onde o tempo não acaba.
Onde a memória se adapta.
Onde as princesas são rainhas.
Onde as flores são protegidas.
Onde as prendas são recebidas.
Onde as alegrias são vividas.
Onde a campainha tocou.
Onde a porta abriu.
Onde ele apareceu.

Onde o sonho é verdade.

Agora princesa, não abras a porta.
Pensa em tudo como uma afronta.
Porque o medo venceu sempre.
E o passado não alimenta o presente.
Amanhã tudo terá que recomeçar.
E a campainha nunca tocou.
A viagem nunca aconteceu.
O fato preto era algo para odiar!

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