03 novembro 2013

Sabem porque gosto dos Joy Division?

Sabem porque gosto dos Joy Division?
Porque é a imperfeição perfeita. Porque é tudo que poderia ser e não foi. Porque é o fatalismo realista. Porque é o cinzento demasiado escuro.
A música dos Joy Division faz-me querer que existe uma ligação directa, mas distante, entre um individuo que faz de conta que é o vocalista e uma banda que faz de conta que está a tocar com ele.
A letra, a voz - Ian, vive uma anunciada beleza lírica destrutiva e fatal, sempre consumada na última palavra. Uma luta constante por um controlo de sentimentos que nunca poderão ser contidos e que vivem ao ritmo de uma qualquer batida.
A banda, a melodia – Joy, vive numa Manchester suja, chuvosa, esquecida. Não se preocupa que a batida pareça desformada, mas sim que haja a transmissão do momento, do segundo, da realidade, da atmosfera em que essa batida foi tocada.
A letra é a anarquia que vive dentro de um génio. A voz é a desordem que confirma as cores para que estas transmitam somente um pesado cinzento, amordaçado pela certeza de que algo mais negro está a chegar.
A banda é a amizade de uma mesma condição social. A melodia é o produto de uma juventude adiada que caminha junta sem saber bem para onde, apenas com a certeza que existe um sentimento comum de que o caminho certo é seguir aquela voz.
Também gosto deles porque socialmente, economicamente e culturalmente a minha cidade (hoje diria mesmo o meu país) é muito parecida com a Manchester industrializada e sem alma que procura um simples significado nas entrelinhas para existir mais um dia.
E porque o barulho que oiço dos meus amigos é imperfeitamente original, como aquele dos Joy Division.
Porque a responsabilidade de não perder o controlo às vezes provoca em mim uma alma morta.
Porque o amor que nos separa sabe que tem de ser desta vez… Esta cerimónia é desordem, é amor.
Puro, bruto, inacabado, louco, descontrolado.
Joy Division, é a história daquilo que pode ser melhor em tudo, mas contenta-se por ser para sempre... Uma história inacabada.
Genial? Brilhante? Fantástica? Única? Transcende? Berrante? Mais adjectivos?
Suja? Ruidosa? Obscura? Chuvosa? Fria? Adiada?
Não. Simplesmente... Uma história inacabada.
E, no mesmo momento em que o mundo se rendeu ao talento de uma banda cujo único objectivo era existir para ver nascer mais um dia, Ian escreveu uma letra onde não usou papel, caneta ou palavras… Porque escreveu no nosso imaginário o mito Joy Division.
E, depois, friamente, como resposta ao desertar de Ian, a banda, a melodia, decide escrever uma outra história como se fosse uma nova ordem para renascer que pairou nas suas cabeças como uma tentação pelo ritmo e a cor depois de uma segunda-feira triste, porque a vida continua…
Cheia de histórias inacabadas. Cheia de promessas que nunca passarão disso. Cheia de sonhos que nunca se materializarão… A vida continua.

P.S.: Quiz – Quantos citações fiz a músicas dos Joy Division (também New Order) neste texto?



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